Morte de Villavicencio remete a tradição de crimes políticos na América Latina

Assassinatos de candidatos frequentemente estão ligados ao narcotráfico, problema histórico na região

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O assassinato do candidato à Presidência do Equador Fernando Villavicencio, 59, nesta quarta-feira (9), deixou o país em choque. O representante do partido Movimiento Construye foi morto com três tiros na cabeça após participar de um evento de campanha na capital, Quito.

O político mexicano Luis Donaldo Colosio, morto em atentado durante campanha à Presidência do país
O político mexicano Luis Donaldo Colosio, morto em atentado durante campanha à Presidência do país - CCNesnoticias

O caso de um político assassinado em campanha não é inédito na nação, no entanto; tampouco na América Latina.

Algumas das mortes mais simbólicas de candidatos presidenciais ocorreram na Colômbia e no México nos anos 1980 e 1990. Assim como o assassinato do candidato equatoriano nesta quarta, cuja autoria foi reivindicada pela facção criminosa Los Lobos, elas também estavam ligadas ao narcotráfico, um problema histórico na região.

No caso colombiano, o homicídio de Luis Carlos Galán em agosto de 1989 marcou a política local. Então favorito à Presidência, o político liberal e carismático foi morto a tiros durante um comício no município de Soacha, próximo a Bogotá.

À época, a nação sul-americana vivia o auge da violência dos grupos ligados ao tráfico de drogas. Galán não só havia denunciado Pablo Escobar, líder do Cartel de Medellín, como tinha defendido a extradição dos narcotraficantes. Tendo sobrevivido a outros atentados, ele tinha ignorado os apelos da família para interromper a campanha eleitoral.

Em 22 de março de 1990, foi a vez de Bernardo Jaramillo, do partido de esquerda União Patriótica, ser assassinado no aeroporto na capital enquanto esperava um voo para Santa Marta, no norte, onde tiraria férias após uma exaustiva campanha presidencial.

O político assumiu o comando do União Patriótica após seu líder anterior, Jaime Pardo Leal, sofrer uma morte violenta. Ele vinha fazendo uma série de denúncias sobre homicídios de outros membros da legenda, que ultrapassaram os 4.000, atribuindo os crimes a uma aliança entre forças paramilitares conservadoras e cartéis. Foi morto por um tiro dado por um matador de aluguel enquanto aguardava em frente a uma farmácia ao lado da mulher, que saiu ilesa do episódio.

Pouco depois, em 26 de abril daquele mesmo ano, Carlos Pizarro Leongómez, candidato do M-19, uma ex-guerrilha transformada em partido político, foi morto durante um voo com direção a Barranquilla, no norte.

No México, o assassinato de Luis Donaldo Colosio, então candidato do PRI (Partido Revolucionário Institucional) em 23 de março de 1994 deu início a um período de incessante violência política.

Na ocasião, o então favorito na corrida eleitoral, tinha acabado de participar de um comício em Tijuana, na fronteira com os Estados Unidos, e tentava voltar para o seu carro no meio da multidão. Foi alvejado na cabeça e no abdômen e morreu durante uma cirurgia no cérebro. O atirador, Maria Aburto, então com 23 anos, foi preso no local do crime, mas tanto os motivos do assassinato quanto os supostos mandantes nunca foram revelados.

O Equador, que enfrenta uma crise de violência nos últimos anos, foi palco de outros dois assassinatos de políticos só este ano. Em 4 de fevereiro, um dia antes das eleições municipais, Omar Menéndez, candidato à prefeitura de Puerto López, em Manabí, pelo partido correísta, foi assassinado. Sua aliança ganhou o pleito, e Verónica Lucas, da mesma legenda, então assumiu o cargo.

Já em 23 de julho, o prefeito da cidade de Manta, Agustin Intriago, foi assassinado a tiros. Segundo a polícia, ele estava inspecionando obras públicas quando um homem saiu de um caminhão roubado e abriu fogo contra o político.

O Brasil também teve seu quinhão de assassinatos políticos. O mais emblemático deles em anos recentes foi o de Marielle Franco, então vereadora pelo PSOL, morta a tiros em 14 de março de 2018 no Estácio, centro do Rio de Janeiro, após o carro em que estavam ser alvejado. O motorista do veículo, Anderson Gomes, também foi assassinado.

A morte gerou uma comoção no país todo e tornou o rosto de Marielle um ícone nacional. O caso continua sem resolução, mas viu uma série de avanços nos últimos meses, quando investigações apontaram o envolvimento de novos personagens na trama, de policiais a contraventores.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.