Direita latino-americana se reúne na Argentina para criticar esquerda e ignora Milei

Ex-presidentes e Sergio Moro apoiaram Patricia Bullrich em evento do Grupo Liberdade e Democracia na Argentina

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Buenos Aires

Diversos figurões do que é, ou foi, a direita e a centro-direita latino-americanas nos últimos anos se reuniram nesta sexta-feira (22) em Buenos Aires para criticar regimes autoritários e populistas de esquerda e apoiar a candidata à Presidência da Argentina Patricia Bullrich. Eles evitaram, porém, mencionar a ascensão da ultradireita na região —e de Javier Milei no país.

Participaram do encontro do Grupo Liberdade e Democracia vários ex-presidentes, como Mauricio Macri (Argentina), Sebastián Piñera (Chile), Iván Duque (Colômbia), Vicente Fox (México), Mario Abdo (Paraguai), Mariano Rajoy (Espanha) e o atual presidente Guillermo Lasso (Equador), além da própria Bullrich e das presidenciáveis mexicana, Xóchitl Gálvez, e venezuelana, María Corina Machado.

O ultraliberal Javier Milei, candidato à presidência da Argentina, segura motosserra em campanha em La Plata, na província de Buenos Aires, em referência às suas promessas de cortes de gastos - Marcos Gomez - 12.set.2023/AG La Plata/AFP

"É a batalha final contra um kirchnerismo que está debilitado", afirmou com voz rouca Bullrich, bastante aplaudida ao chegar. Por cerca de 17 minutos, ela fez incisivas críticas à força política da atual vice e ex-presidente Cristina Kirchner, a qual chama de mafiosa, mas só fez uma referência indireta ao final ao ultraliberal Milei, seu principal opositor.

"Quando já estamos desembarcando na Normandia [operação militar considerada crucial para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial], não vamos recuar para que tente chegar ao governo um grupo novo, que tem o direito mas que não vai ter o respaldo, a coragem, o temperamento e a força para dizer 'chega, nunca mais nos impedirão de governar'. Porque se isso acontecer, esse poder [o kirchnerismo] voltará rapidamente."

Milei superou a coalizão de Bullrich, Juntos por el Cambio, nas eleições primárias, em agosto, e até agora lidera as pesquisas eleitorais para o primeiro turno, em 22 de outubro. Sergio Massa, ministro da Economia e candidato pelo peronismo, vem em segundo lugar, e Bullrich, que divide os votos da direita com o libertário, em terceiro.

Na primeira vez em que o Grupo Liberdade e Democracia se reuniu, em maio, de forma virtual, a força macrista ainda era vista como favorita à Presidência da Argentina. A organização foi criada neste ano para fazer oposição a homólogos de esquerda como o Foro de São Paulo e o Grupo de Puebla. O último também se encontrará em breve, no dia 30 de setembro, no México, pela nona vez.

Antes de Bullrich, falaram Mauricio Macri e Sebastián Piñera, dois dos fundadores do coletivo, que também não citaram a ultradireita em seus discursos. Questionado depois pela imprensa, o argentino afirmou que Diana Mondino, cotada para ser a chanceler de Milei, chegou a ser convidada —ela não compareceu ao evento.

Macri declarou no palco que líderes populistas de esquerda usam "narrativas poderosas, baseadas no ressentimento e na reivindicação. Em tirar de um para dar para outros, em arrancar a cultura do trabalho, a meritocracia". Já Piñera enfatizou que o grupo "tem grandes desafios eleitorais pela frente", citando futuras eleições também no México, na Venezuela e no Equador.

Um dos discursos mais incisivos foi o do colombiano Iván Duque. "A democracia está ameaçada pelos que hoje se definem como progressistas, mas na verdade são 'pobrecistas' [...] Buscam chegar ao poder vendendo um falso discurso de unidade e começam a fazer uma desconstrução institucional lenta e perigosa", disse num painel chamado "Narcopopulismo".

Ele afirmou que a esquerda "captura" sindicatos, professores, juízes e meio de comunicação. "Vão uma semana ao Chile para chorar por [Salvador] Allende e atacar a ditadura de [Augusto] Pinochet, mas dias depois são capazes de ir a Cuba e enaltecer a ditadura dos Castro", discursou, provocando aplausos. A ultradireita ressurgiu entre os chilenos 50 anos após o golpe, centralizada na figura de José Antonio Kast.

Os países mais citados no evento foram a Venezuela de Nicolás Maduro, a Nicarágua de Daniel Ortega e a Cuba de Miguel Díaz-Canel. Juan Guaidó, ex-presidente autoproclamado da Venezuela que se exilou em Miami, também discursou virtualmente. O presidente Lula (PT) não foi mencionado.

Coube a Vicente Fox, líder do México de 2006 a 2010, uma das poucas espécies de mea culpa do evento. Ele disse que os governos precisam ser mais claros em suas propostas. "Deveríamos dedicar mais tempo a encontrar essas soluções e nos aproximarmos dos cidadãos, com a humildade de reconhecer nossos erros e propor novas propostas", afirmou.

Do lado brasileiro, participaram o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o senador Sergio Moro (PR), ambos do União Brasil. Questionado sobre Milei, o ex-juiz da Lava Jato desviou: "Vemos como muito positiva a provável derrota do kirchnerismo nas eleições. É um sinal do que vai acontecer no Brasil também em 2026."

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também estava confirmado, mas cancelou sua presença citando um conflito de agendas.

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