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Na geração Z, mulheres são mais progressistas, e homens, mais conservadores

Pessoas que hoje têm menos de 30 anos contrariam padrão histórico e têm opiniões diferentes a depender de seu gênero

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John Burn-Murdoch
Financial Times

Um dos padrões mais estabelecidos em levantamentos de opinião pública é que cada geração tende a se mover em conjunto quando se trata de política e ideologia geral. Seus membros compartilham as mesmas experiências formativas, alcançam os principais marcos da vida ao mesmo tempo e se frequentam os mesmos espaços.

Como devemos, então, entender os relatos de que a Geração Z é hiperprogressista em certas questões, mas surpreendentemente conservadora em outras? A resposta, nas palavras de Alice Evans, pesquisadora visitante da Universidade de Stanford e uma das principais especialistas no assunto, é que os jovens com menos de 30 anos de hoje têm opiniões completamente diferentes a depender de seu gênero.

Mulheres em protesto por igualdade de gênero - Carlo/Adobe Stock

Em países de todos os continentes, uma lacuna ideológica se abriu entre jovens homens e mulheres. Dezenas de milhões de pessoas que ocupam as mesmas cidades, locais de trabalho, salas de aula e até mesmo lares não veem mais as coisas da mesma maneira.

Nos Estados Unidos, dados da Gallup mostram que, após décadas em que os sexos estavam igualmente distribuídos entre visões de mundo liberais e conservadoras, as mulheres de 18 a 30 anos agora são 30 pontos percentuais mais liberais do que seus contemporâneos masculinos. Essa fenda levou apenas seis anos para ser aberta.

A Alemanha também mostra agora uma lacuna de 30 pontos percentuais entre jovens homens cada vez mais conservadores e mulheres cada vez progressistas; no Reino Unido, a diferença é de 25 pontos. Na Polônia, no ano passado, quase metade dos homens de 18 a 21 anos apoiaram o partido de ultradireita Confederação, em comparação com apenas um sexto das mulheres na mesma faixa etária.

Fora do Ocidente, as divisões são ainda mais acentuadas. Na Coreia do Sul, há agora um abismo entre jovens homens e mulheres, e a situação é semelhante na China. Na África, a Tunísia mostra o mesmo padrão. É importante observar que, em todos os países, essa divisão dramática é exclusiva da geração mais jovem ou muito mais pronunciada nela do que entre homens e mulheres de 30 anos ou mais.

O movimento #MeToo foi o gatilho-chave, dando origem a valores ferozmente feministas entre as jovens, que se sentiram empoderadas para denunciar injustiças de longa data. Essa faísca encontrou terreno especialmente fértil na Coreia do Sul, onde a desigualdade de gênero ainda é marcante e a misoginia flagrante é comum.

Nas eleições presidenciais de 2022 do país, enquanto homens e mulheres mais velhos votaram em uníssono, os homens jovens apoiaram fortemente o partido de direita People Power, enquanto as mulheres mais novas apoiaram o partido Democrático em números quase iguais.

A situação da Coreia do Sul é extrema, mas serve de advertência para outros países sobre o que pode acontecer quando jovens homens e mulheres se separam. A sociedade sul-coreana está dividida em dois. Sua taxa de casamento despencou, e a taxa de fecundidade caiu de forma acentuada, chegando a 0,78 filhos por mulher em 2022, a mais baixa de qualquer país do mundo.

Sete anos após a explosão inicial do #MeToo, a divergência de gênero nas atitudes foi muito além da questão do assédio sexual. Ao contrário, a clara divisão progressista versus conservadora sobre o assunto parece ter causado —ou pelo menos fazer parte de— um realinhamento mais amplo entre jovens homens e mulheres em campos conservadores e liberais, respectivamente, em outras temáticas.

Nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, as jovens mulheres agora adotam posições muito mais liberais em relação à imigração e à justiça racial do que os jovens homens, enquanto os grupos etários mais velhos permanecem equilibrados.

A tendência na maioria dos países tem sido de mulheres se deslocarem para a esquerda enquanto os homens permanecem no mesmo lugar. Mas há sinais de que os jovens homens estão se movendo ativamente para a direita na Alemanha, onde os jovens com menos de 30 anos são mais contrários à imigração do que seus pares mais velhos e têm se aproximado da sigla de extrema direita AfD nos últimos anos.

Seria fácil dizer que tudo isso é só uma fase que passará, mas as lacunas ideológicas estão apenas aumentando, e os dados mostram que as experiências políticas formativas das pessoas são difíceis de serem abandonadas.

Tudo isso é exacerbado pelo fato de que a proliferação de smartphones e mídias sociais significa que jovens homens e mulheres agora habitam espaços separados e experimentam culturas diferentes com mais frequência.

É muito comum que opiniões dos jovens sejam ignoradas devido às suas baixas taxas de participação política. Mas essa mudança pode impactar as gerações futuras em ondas, afetando muito mais do que a contagem de votos.

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