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Ruptura de confiança

Medidas tomadas pela ANM e pela Vale não são suficientes para evitar temor e novas tragédias

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Capacete de funcionário da Vale em Brumadinho
Capacete de funcionário da Vale em Brumadinho - Washington Alves/Reuters
 
 

O frenesi de providências após a tragédia de Brumadinho (MG) confirma o velho dito popular: porta arrombada, põe-se tranca. Omissa antes do desastre, a Agência Nacional de Mineração (ANM) tem prodigalizado medidas de segurança.

Não era para menos, diga-se.

O rompimento da barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão, pertencente à empresa Vale, matou provavelmente mais de três centenas de pessoas. E isso meros três anos após a ruptura de um outro reservatório de contenção, em Mariana (MG), numa mina da qual a mesma Vale era coproprietária.

A vida de centenas de vizinhos de outras cavas segue atormentada por sirenes e evacuações forçadas, em razão do súbito reconhecimento de riscos em barragens até então ignoradas. Mesmo quando tal não ocorre, o temor difuso perturba o sono de muita gente.

A companhia anunciara na terça-feira (19) a realocação de cerca de cem habitantes do entorno das barragens Forquilha 1, 2 e 3, Grupo e Vargem Grande, em Minas Gerais.

No dia seguinte, a ANM determinou a interrupção das atividades minerárias nesses complexos, com o objetivo de prevenir gatilhos que possam desencadear o fenômeno da liquefação que devastou a vizinhança de Brumadinho e Mariana.

A medida de alcance mais geral da agência exige o descomissionamento, até 2021, de barreiras para represamento de rejeitos erguidas com a mesma técnica de construção empregada nos locais sinistrados, o alteamento a montante. É o método mais barato, e também mais instável, para depositar resíduos acumulados por décadas.

Não se trata, portanto, de estruturas novas nem de processos pouco testados. A interdição alcança 84 construções do gênero, da Vale e de outras empresas, inclusive dos setores siderúrgico e de fertilizantes. Todas deverão estar desmontadas até o ano de 2023.

Não que elas se tenham tornado inconfiáveis de uma hora para outra. A repetição das tragédias, entretanto, erodiu a base de confiança não só nessa técnica construtiva mas, igual e principalmente, na capacidade das instituições de garantir sua segurança.

Por instituições, de resto, não se deve entender apenas as do poder público. Nunca haverá pessoal suficiente nos órgãos governamentais para monitorar e fiscalizar as barragens a cada dia, hora e minuto. A responsabilidade cabe às empresas, cuja governança falhou desgraçadamente, mas só porque vistas grossas e uma regulação frouxa lhes permitiram pôr a redução de custos à frente da vida de funcionários e população circundante.

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