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A saga da despoluição

Histórico de fiascos lança dúvidas sobre novo projeto para o rio Pinheiros

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Estações de tratamento de esgoto no Rio Pinheiros, próximo à usina de Traição, na Vila Olímpia, em São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

Aos milhares que passam diariamente por suas avenidas marginais, o Tietê e o Pinheiros fazem recordar a incapacidade dos governos paulistas de transformar o que hoje são esgotos a céu aberto em cursos d’água capazes de quebrar a paisagem cinza da capital.

Ao menos desde a gestão de Fleury Filho (MDB) como governador (1991-94), sucedem-se promessas vãs de que em algum momento do futuro será possível nadar nos rios ou mesmo beber de suas águas. Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra também fizeram suas tentativas nas mais de duas décadas de administração tucana.

Em 2011, por exemplo, depois de dez anos e R$ 249 milhões (em valores atuais) gastos, chegou-se à conclusão de que o método de flotação, pelo qual se juntaria a sujeira em flocos na superfície para remoção, não funcionava. Já foram despendidos cerca de US$ 3 bilhões com projetos do tipo. 

Agora, o plano do governo de João Doria (PSDB) prevê reduzir à metade a poluição no Pinheiros até 2022, ao custo de R$ 1,5 bilhão. Para isso, a Sabesp fará licitações para que 14 empresas tornem-se responsáveis por áreas da cidade, nas quais terão a tarefa de conectar o esgoto a estações de tratamento.

Espanta que, segundo a estatal, haja 500 mil imóveis na bacia do rio Pinheiros cujos dejetos são lançados diretamente em córregos sem tratamento algum. Mais preocupante ainda, 30% do esgoto na maior e mais rica cidade do país não é tratado, e 13%, nem sequer coletado pela Sabesp.

A ideia de remunerar as empresas contratadas pelo desempenho na despoluição, e não pelas obras construídas, parece correta.

Outro propósito do governo é usar pequenas estações de tratamento de esgoto modulares para dar destino aos dejetos em áreas de ocupação irregular ou de difícil acesso, que no mais das vezes vão parar em córregos locais.

Diante do histórico de compromissos frustrados, não há como deixar de lado o ceticismo diante da iniciativa. Avesso ao comedimento retórico, o governador Doria não ajuda a descrever um cenário mais realista quando fala em fazer do entorno do Pinheiros um polo gastronômico, como o de Porto Madero, em Buenos Aires.

editoriais@grupofolha.com.br

Erramos: o texto foi alterado

Já foram gastos US$ 3 bilhões, e não R$ 3 bilhões, em projetos de despoluição da bacia do rio Tietê. O texto foi corrigido.
 

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