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Fiesp declara apoio a Bolsonaro enquanto aprofunda oligarquização

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O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, durante evento na entidade - Aloisio Mauricio/Fotoarena/Folhapress

A tendência de organizações nascidas para vocalizar interesses coletivos de se converterem com o tempo em fortalezas inexpugnáveis à renovação, dedicadas a proteger seu grupo restrito de dirigentes, é um fato fartamente descrito na literatura econômica e sociológica.

No caso de associações agraciadas com monopólios de representação e financiadas à base de contribuições obrigatórias, os efeitos da chamada lei de ferro das oligarquias tendem a ser mais rápidos e profundos. No Brasil, esse modelo não dá mostras de retroceder.

Veja-se a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, cujo presidente, Paulo Skaf, já foi eleito quatro vezes seguidas e poderá ter permanecido no cargo 16 anos, caso não reincida na mudança dos estatutos para alongar a estadia.

Por duas vezes, nesse período, já pôde desvincular-se do posto, disputar eleições majoritárias e voltar a ele depois da derrota. As fronteiras entre, de um lado, a aventura política pessoal e, do outro, o comando de Fiesp e Ciesp —bem como dos braços paulistas de Sesi e Senai— ficaram borradas.

Contra o statu quo se insurgiram, nesta Folha, três lideranças do segmento: Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski. O título do artigo, “Morte anunciada”, alude ao risco de que a rarefação da atividade fabril seja ainda mais acentuada em meio à deterioração da representação do setor.

Dias depois coube a Skaf a resposta, que veio sob a forma de um libelo de adesão explícita ao governo do presidente Jair Bolsonaro.

Não que o governismo soe estranho à trajetória da entidade nem que seja ilegítimo numa organização privada. A Fiesp esteve à vontade com as administrações petistas enquanto o Tesouro se endividava para que o BNDES emprestasse somas astronômicas a grandes empresas com juros subsidiados.

O que resta como nota duvidosa são as motivações da recente aproximação com o bolsonarismo. Seriam circunscritas às razões apresentadas, de alinhamento com a política econômica do governo federal, ou estariam sobretudo relacionadas às nunca saciadas pretensões eleitorais de Paulo Skaf?

A confusão fica difícil de ser desfeita quando a Fiesp já vai longe na trilha para consolidar-se como um grande cartório. O ministro Paulo Guedes, que na campanha prometia combater o padrão oligárquico da representação sindical no Brasil, parece ter-se acomodado à sombra do prédio na avenida Paulista.

​editoriais@grupofolha.com.br

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