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Benjamin Ribeiro da Silva

Há condições seguras para a retomada das aulas presenciais na cidade de São Paulo? SIM

Com eleição à frente, políticos agem com descaso e insistem em negar a ciência

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Benjamin Ribeiro da Silva

Professor e presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp)

As escolas particulares de educação básica do estado de São Paulo vêm se preparando há meses, segundo as normas da OMS, das autoridades de saúde e de educação, e estão prontas para voltar. Além disso, vêm sendo orientadas a seguir também o protocolo do Sieeesp, elaborado por médicos, especialistas e técnicos, com o objetivo de um retorno com segurança para todos.

A OMS já afirmou que as escolas não são o motor principal de transmissão da Covid-19. O ECDC, centro de prevenção de doenças europeu, declarou que as escolas são essenciais na vida das crianças e que nos países onde houve reabertura “não se registrou aumento nos contágios”. Unicef e Unesco declararam que colégios só devem ficar fechados como último recurso.

O ano de 2020 vai ficar marcado na história pela pandemia, mas também pelo descaso de prefeitos que, tendo uma eleição à frente, insistem em negar a ciência —em nome dela!— mesmo que seja com o altíssimo preço de interferir gravemente na vida e na saúde das crianças, impedindo a volta às aulas.

Mas se os pequenos estão confinados, como ficam doentes? Contaminam-se porque moram com adultos que trabalham, usam transporte público lotado diariamente e acabam transmitindo a doença. É a ciência que prova isso, por meio de estudos e pesquisas no próprio ambiente escolar, como na Alemanha e na França (a partir de escolas em uma região altamente afetada pela doença, Crépy-en-Valois).

Em outro estudo recente, publicado pela Associação Americana de Pediatria (disponível em www.aappublications.org/news), pesquisadores da Universidade de Genebra, após avaliarem 4.310 pacientes com Covid-19, constataram que apenas 0,9% possuía idade igual ou inferior a 16 anos, sendo que em 92% desses casos pegaram a doença em casa, de pessoas adultas. E sem evidências de que as crianças transmitiram o vírus para os adultos.

O estudo “Covid-19 e a reabertura das escolas” identifica a experiência bem-sucedida em mais de 15 países. O retorno “não alterou a curva da doença e não houve surto causado pela reabertura: e isso é muito importante. Não é opinião, são fatos”, diz o médico Fabio Jung, um dos coordenadores. Na Dinamarca, a volta ocorreu 30 dias após o início da pandemia, próximo do pico da curva de contágio.

Na Bélgica (proporcionalmente com mais mortes do que o Brasil), em 68 dias. Vietnã, Camboja e Nigéria, que têm menos condições do que nós, já iniciaram a reabertura.

Por aqui, a tragédia anunciada é a de que a capital ostentará o recorde mundial de 198 dias de fechamento em 5 de outubro. E poderá ficar pior, pois o prefeito Bruno Covas (PSDB) condiciona o retorno das escolas a mais testes sorológicos. Mas esse teste revela o quê? Se a criança está doente? Não, só identifica se ela tem anticorpos. Fica claro ser apenas uma cortina de fumaça para tentar justificar o injustificável.

Os paulistanos, forçados a conviver com o uso eleitoreiro da doença, não devem ter dúvidas sobre os responsáveis por essa situação. A OCDE indica um impacto planetário negativo por décadas, em estudo realizado quando o fechamento das escolas era de 14 semanas (98 dias). O que se dirá então de 198 dias? Ou ainda além, em 2021, como tragicamente já anunciaram dezenas de prefeitos, que não se importam com o sofrimento das crianças? Até a ciência está a favor da volta das escolas, obedecendo-se os protocolos de higiene e segurança. Só os políticos eleitoreiros é que não?

No mundo inteiro a pandemia colapsou a saúde. No Brasil, colapsou a educação.

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