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Paradoxo Bolsonaro

Tempo e cálculo político dificultam impeachment, que ganha apoio e densidade

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O presidente Jair Bolsonaro - Sergio Lima/AFP

A despeito de marchar com vigor rumo ao posto de pior presidente desde a redemocratização, Jair Bolsonaro só agora vislumbra a possibilidade de formar-se maioria popular pelo impeachment.

Os que concordam com a abertura de processo por crime de responsabilidade no Congresso perfazem 49% dos eleitores, segundo o Datafolha. Rejeitam-na 46%. Em relação a março, o movimento foi de sete pontos percentuais a favor do impeachment —três para cima entre quem apoia a ideia e quatro para baixo entre quem a refuta.

Enquanto isso, no Senado, a CPI que apura a conduta de autoridades no combate à crise do coronavírus acumula provas de negligência e de afronta à saúde pública que pouca dúvida deixam sobre as digitais do presidente Jair Bolsonaro.

O hiato que se avizinha na vacinação —pela falta de insumos da China, alvo da política externa bolsonarista— deve manter ativos os dois vetores, a insatisfação popular e o cerco da CPI, que agravam a crise política vivida pelo presidente.

Há, no entanto, também um feixe de forças que atua na direção contrária ao impeachment presidencial. Algumas delas se enrijecem.

O primeiro esteio vem da decisão do presidente de partilhar o Executivo com o conjunto amorfo de siglas que constituem o centrão.

A redução do cacife eleitoral de Bolsonaro aguça o instinto bandoleiro dos desfrutadores ocasionais de cargos e verbas, mas não necessariamente incentiva uma ruptura antes de 2022. Isso porque o polo que se alevanta como alternativa no Datafolha, Lula da Silva, já deu no passado copiosas mostras de adesão aos termos do centrão.

Também por causa da vantagem que o ex-presidente apresenta na fotografia da última pesquisa, os petistas e seu círculo gravitacional farão menos questão do impeachment, embora talvez ainda se declarem favoráveis ao processo.

O tempo também parece ser o principal elemento a trabalhar contra a cassação do mandato presidencial. Faltam pouco mais de 16 meses para as eleições nacionais, e um processo de impeachment não dura menos de 9 meses —do início do trâmite na Câmara ao julgamento final no Senado—, a tomar como régua o caso Dilma Rousseff.

Análises de probabilidade política à parte, a crescente impopularidade do presidente da República cobra do Congresso —seja pelas investigações da CPI, seja pela devida resposta às dezenas de pedidos de impeachment—, da Justiça e dos demais órgãos de controle satisfações plenas à cidadania sobre os descalabros ocorridos neste triste mandato presidencial.

editoriais@grupofolha.com.br

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