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Ivan Valente

O Brasil não suportará mais quatro anos de Bolsonaro

Mobilização nas ruas deve continuar para inibir desgoverno e fake news

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Ivan Valente

Deputado federal (PSOL-SP)

Depois de ensaiar um golpe de Estado com fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso, possível amordaçamento da imprensa e presença armada de milicos e milicianos, Jair Bolsonaro parece querer continuar seu projeto de destruição pelas vias que a correlação de forças lhe permite.

Os democratas, progressistas e socialistas devem saber que não existe caminho fácil para superar este desgoverno. É um projeto de intencional implosão da nação e retrocesso civilizatório. A dimensão da tragédia nos aponta que o Brasil não suportará mais quatro anos de Bolsonaro.

O espelho destes três anos é a matança de mais de 600 mil vidas, sem luto, com deboche, negação da ciência, sabotagem das vacinas, corrupção e charlatanismo. É o armamento de milicianos em nome da liberdade, a substituição da verdade factual por uma monstruosa rede de fake news. É o atiçamento dos quarteis para solapar a democracia.

É um governo que odeia pobres, em que o desemprego, o desalento e a informalidade atingem 60 milhões de brasileiros. Fome, miséria, carestia e inflação voltaram com tudo. É a política da sopa de ossos disputada no lixo. Sob a batuta de Bolsonaro, o país virou pária na área ambiental e de direitos humanos e se orgulha da vergonha internacional. O horror da imagem aterrorizante de uma draga do garimpo ilegal sugando duas crianças yanomamis num rio é o retrato da política anti-indígena.

Quando o caldo engrossou, Bolsonaro comprou o centrão com cargos e ministérios. Este contempla suas bases, que garantem maioria congressual através da corrupção escancarada com o nome de emendas de relator (RP9). Apenas para este ano estão previstos R$ 16 bilhões aos apaniguados. É o preço para barrar o impeachment e votar reformas antipopulares. Ele tenta, assim, garantir a reeleição, mantendo o apoio do centrão e sustentando uma base radicalizada com discurso tosco, alimentado pelo preconceito e pelo ódio.

No entanto a barbárie bolsonarista produziu uma fratura importante na elite brasileira. E essa ala procura desesperadamente uma candidatura para se contrapor à polarização entre Bolsonaro e Lula. Querem a continuidade da política ultraliberal, mas sem o isolamento internacional e a fragilização do regime democrático eleitoral.

Essa fração da elite é, também, poderosa economicamente e conta com significativo poder na grande mídia. Seus pré-candidatos são quase todos bolsonaristas "arrependidos". Foram contribuintes ativos da chegada de Bolsonaro ao poder em 2018. Mas aí reside exatamente sua fraqueza. Corroboraram covardemente com a selvageria e a agenda antipovo e agora não têm discurso, programa ou candidatura competitiva. Tentarão assim mesmo uma unificação que se afigura difícil como "terceira via", mas que não deve ser desprezada.

Nesse quadro complexo, é imprudente e mesmo irresponsável pensar que uma alternativa à esquerda já tenha vitória assegurada. Portanto, é mais do que necessário continuar apostando nas ruas, aumentando a mobilização popular e a ação nas redes sociais pelo "Fora, Bolsonaro". Isso é fundamental, não só para brecar a agenda conservadora, mas também para combater e inibir a milicianização da política e enfrentar a onda de mentiras propagadas com o apoio de empresários criminosos.

Imprescindível é a unidade das forças do campo democrático e popular. Diante do perigo iminente, trabalhar de forma harmônica contra o hegemonismo e o sectarismo em uma luta que exige sabedoria, tolerância e generosidade, contemplando todos os atores na batalha pelo impeachment e na participação ampla do processo eleitoral.

Essa unidade se constrói na aposta e num programa voltado aos "de baixo", na superação desse modelo econômico execrável, concentrador de renda, riqueza e poder, que perpetua a exclusão social e os preconceitos que marcam a dominação de classe no país. Sem distribuição de renda e busca do fim das desigualdades não há democracia.

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