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O que a Folha pensa COP26

O saldo da COP26

Conferência do clima tem avanço, mas abaixo do desejado; Brasil não limpa imagem

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Sessão da COP26, em Glasgow - Yves Herman/Reuters

A 26ª conferência global do clima, realizada em Glasgow, na Escócia, teve como um de seus objetivos centrais tornar mais ambiciosos os compromissos assumidos pelos países no enfrentamento da crise climática. Sob essa régua, pode-se dizer que os resultados alcançados após duas semanas de reunião ficaram aquém do esperado.

Não que os avanços tenham sido poucos. O mais importante deles foi a conclusão do livro de regras do Acordo de Paris, que estabelece como se dará o funcionamento desse tratado assinado em 2015.

Regulamentaram-se, enfim, os mecanismos de transparência e as balizas temporais que serão utilizados para a revisão dos marcos climáticos propostos pelos países.

Também foram acordadas as normas que presidirão o nascente mercado mundial de carbono, em que nações poderão comprar de outras créditos de emissões de gases-estufa para cumprir metas.

Valerá a regra dos ajustes correspondentes nos compromissos climáticos de compradores e vendedores. Em outras palavras, os países terão de abater o crédito vendido de sua meta de redução de emissões, evitando assim a chamada dupla contagem.

Em que pesem tais progressos, mesmo as novas reduções propostas em Glasgow, ainda que efetivamente realizadas, acarretariam aumento da temperatura atmosférica de 2,4ºC. Trata-se de marca muito acima do 1,5ºC estabelecido como o limite para o planeta evitar os cenários mais catastróficos.

A COP26 também avançou pouco na ajuda financeira aos países em desenvolvimento. A promessa das nações ricas de, a partir de 2020, destinar US$ 100 bilhões anuais para os esforços de redução das emissões e de adaptação aos efeitos do aquecimento global continua sendo só uma promessa.

Depois do papel vexaminoso protagonizado na cúpula anterior, o Brasil adotou neste ano um comportamento mais construtivo e flexível nas negociações, deixadas a cargo do Itamaraty.

A mudança no modo de atuação, contudo, não evitou momentos constrangedores, como a infeliz associação feita pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, entre floresta e pobreza, típica da mentalidade bolsonarista.

Tentando apresentar a imagem de país preocupado com a crise climática e o desmatamento, o governo Jair Bolsonaro viu seu discurso ser solapado pela realidade. Enquanto a reunião corria, divulgou-se que os alertas de desflorestamento na Amazônia em outubro somaram 877 km², o maior dado para esse mês desde 2016.

Vista em perspectiva, a COP26 dificilmente terá sido a última oportunidade diante da mudança climática, mas terminou deixando a busca dos objetivos mais ambiciosos, novamente, para o futuro.

editoriais@grupofolha.com.br

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