Depois de mais de três décadas sem registrar um caso de poliomielite, o Brasil convive, em pleno século 21, com a perspectiva desoladora do ressurgimento da doença.
O país foi incluído pela Organização Pan-Americana de Saúde, ao lado de Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela, no inglório rol de nações do continente com alto risco de retorno da moléstia viral.
O alarme com relação à doença, que em suas formas mais graves compromete o sistema nervoso, causando paralisia permanente dos membros, decorre da cobertura vacinal insuficiente.
Como regra, epidemiologistas preconizam que 95% do público-alvo —de bebês de 2 meses até crianças de 5 anos— precisa ser imunizado para impedir a circulação da pólio. Desde 2015, no entanto, há piora por aqui.
Há seis anos, a taxa se encontrava no patamar seguro de 98,2%. Ela regrediu, porém, para 84,4% em 2016. No ano passado, despencou para preocupantes 75,9%. Em números absolutos, calcula-se que haja nada menos que 1 milhão de bebês e crianças desprotegidas.
Embora a maior parte do planeta esteja livre da pólio, o patógeno permanece endêmico no Paquistão e no Afeganistão. Com essa legião de brasileiros vulneráveis, um viajante desses países que fosse portador do vírus da pólio seria suficiente para promover a recirculação da enfermidade.
As preocupações, infelizmente, não se restringem à pólio. Em 2020, não se cumpriu no Brasil nenhuma meta de cobertura para as vacinas aplicadas na infância.
O sarampo, que parecia uma página virada, voltou a circular no país após ter sido erradicado em 2016. No ano passado, registraram-se surtos dessa doença em 21 estados.
São várias as explicações para o retrocesso —da falsa sensação de segurança resultante da eliminação das moléstias até a possível influência da desinformação sobre os riscos da vacinação, passando pela dificuldade em comparecer aos postos em horário comercial.
Soma-se a isso a pandemia, que restringiu serviços de saúde e fez com que pais buscassem menos os postos de saúde para atualizar a caderneta de vacinação.
Diante da necessidade urgente de reverter esse quadro, é incompreensível, para dizer o mínimo, que o governo Jair Bolsonaro mantenha o órgão responsável por gerenciar a vacinação há mais de cinco meses sem um coordenador titular.
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