Nada menos que 59% dos moradores da cidade do Rio de Janeiro nunca ouviram falar do projeto Cidade Integrada, concebido como vitrine do governador Cláudio Castro (PL) na área de segurança pública —somente 6% se dizem bem informados sobre a iniciativa.
Curiosamente, também somam 59% os cariocas que declaram ser favoráveis ao Cidade Integrada, enquanto 11% se dizem contrários, conforme nova pesquisa do Datafolha. O aparente paradoxo não deixa de fazer algum sentido.
O apoio majoritário se explica por se tratar de projeto com forte apelo popular —e, portanto, eleitoral— num setor crucial para a cidade, envolvendo a ocupação e a pacificação de favelas que abrigam o tráfico de drogas e milícias. O governo fluminense, entretanto, não é claro o bastante a respeito de seus objetivos e indicadores.
Parte do desconhecimento também se deve à ausência de participação das comunidades na formulação e no monitoramento dessa política pública, iniciado com a vistosa ocupação por mais de mil policiais das favelas do Jacarezinho e da Muzema em janeiro.
Ao não ouvir a população diretamente afetada pelas ações, o Cidade Integrada corre o risco de repetir erros de ofensivas malsucedidas na história recente da região. Tentou-se romper essa lógica com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), hoje quase esquecidas após resultados positivos iniciais.
Implantadas em 2008, as UPPs obtiveram grande aprovação ao combinar o combate à violência armada com medidas voltadas à melhoria das condições de vida nas favelas. Entraram em declínio na década seguinte, por esgotamento orçamentário e abusos policiais, acompanhando a crise do estado.
O apoio ao novo projeto se mantém, até com números maiores (mas dentro da margem de erro), entre negros, pessoas menos escolarizadas e moradores da zona norte do Rio de Janeiro. Isso parece confirmar o anseio por segurança pública por parte da população mais diretamente atingida.
Sem a participação desse amplo contingente, bem como continuidade, planejamento e investimentos sociais, o Cidade Integrada parecerá mais uma ação efêmera destinada a ser vitrine eleitoral.
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