Descrição de chapéu
Isabel Santos

Pelo Brasil e pela vida da democracia brasileira

Estarei ao lado de Lula contra a bizarria e o obscurantismo que ameaçam o país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Isabel Santos

Eurodeputada do Partido Socialista

Sorri e encolhi os ombros quando, há umas semanas, um nórdico que viveu vários anos no Brasil me dizia a propósito das eleições presidenciais que, à exceção dos portugueses, deste lado do Atlântico, ninguém compreende aquilo a que chamava de "bizarria brasileira".

Discordei e pensei de imediato que a singularidade do Brasil nada tem de bizarra. Numa Europa que luta todos os dias a ferro e fogo pela democracia e pelo progresso que a ergueu e que a sustenta, continuar a travar a batalha contra o retrocesso nada tem de exótico ou particular.

O gigante da América Latina vive hoje submergido numa profunda crise multidimensional, social, política e de credibilidade, cuja saída é vital não apenas para o Brasil, mas para todos nós.

Não se compreende que no maior produtor mundial de carne e de grão, que conseguiu sair do mapa da fome das Nações Unidas em 2014, os pratos se esvaziem, com 33 milhões a passar fome e famílias a ter que saltar refeições. Nos últimos anos, o Brasil retrocedeu nos dilacerantes contrastes sociais e na falta de acesso à educação por grande parte da população que, geração após geração, se afunda num vicioso ciclo de pobreza, baixos salários e desemprego.

Um monstro que alimenta a reprodução de um modelo de sociedade marcada pela violência, pelo classismo, pelo clientelismo tentacular instalado na máquina do Estado e pela quebra da separação de Poderes de que o ex-juiz Sergio Moro foi, é e será, exemplo máximo. Ao mesmo tempo, assiste-se a um verdadeiro ecocídio do patrimônio florestal da Amazônia e do cerrado. Exigem-se reformas profundas, de grande coragem, e até uma considerável dose de ousadia.

Cabe ao Brasil o resgate da sua credibilidade internacional, encarcerada por Jair Bolsonaro (PL) com a sua boçalidade, os seus constantes ataques às instituições e à democracia, além de um desprezível negacionismo da pandemia que matou milhares de brasileiros.

Nestas eleições, a imparável retórica do ódio e as sucessivas campanhas de desinformação criaram um clima inquietante de grande polarização e de forte instabilidade. As suspeições lançadas por Bolsonaro contra o sistema eleitoral que o elegeu há quatro anos, provam que não há limites na cegueira pelo poder. A União Europeia mostrou-se disponível a realizar uma Missão de Observação Eleitoral. Para que isso acontecesse, era necessário um convite —que nunca chegou.

Ao escrever este artigo, lembro-me de assistir em direto ao digno discurso da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) diante do Senado, por altura do seu processo de impeachment. "Hoje, eu só temo a morte da democracia", dizia. Hoje, as democracias não morrem perante as armas dos golpes militares. Hoje, quem mata a democracia é o populismo, a manipulação e o medo.

Viajarei dentro de dias para o Brasil para estar ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contra a bizarria e contra o obscurantismo. Pela vida da democracia brasileira.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.