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Copa atípica

Autoritarismo, clima e corrupção fazem do Qatar sede mais polêmica de mundiais

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Bandeiras nacionais em praça de Doha, no Qatar - Franck Fife/AFP

Tem início neste domingo (20) a vigésima segunda edição do mais festejado torneio mundial de futebol, mas há motivos consideráveis a alimentar a controvérsia que cercou a escolha do Qatar como sede da Copa do Mundo neste 2022.

Sem nenhuma tradição no esporte, o emirado convenceu em 2010 a maioria dos delegados da Fifa (entidade máxima do futebol) de que seria a melhor opção, mesmo impondo a transferência do evento de suas tradicionais datas, nos meses de junho e julho, para o final do ano, devido ao verão inclemente.

O país já era na ocasião —e assim continua— governado por uma monarquia autoritária sob regras teocráticas baseadas na Sharia, a Lei Islâmica. Relações homossexuais são consideradas crime, imigrantes se veem submetidos a regime de teor escravocrata e mulheres são oprimidas e tratadas como seres de segunda classe.

Diversas organizações de direitos humanos têm protestado contra a Fifa e o governo do Qatar, e algumas estrelas da música internacional recusaram convites para se apresentar no evento.

Esse cardápio de contratempos e atrocidades oficiais parecia afastar, ou pelo menos desaconselhar, a escolha do Qatar para ser a sede do Mundial deste ano.

Além disso, a vitória suscitou denúncias sobre esquemas de corrupção, a começar pelo pagamento de propina a delegados. Lembre-se que a Fifa, à época, era comandada pelo suíço Joseph Blatter, que deixou a entidade em 2015 sob fortes evidências de desvio de recursos.

Do ponto de vista esportivo, esta Copa será a última com 32 seleções, no formato estabelecido em 1998. No próximo Mundial serão 48 equipes, número criticado por muitos, mas que por si não parece apresentar maiores dificuldades.

Outra diferença será a realização do torneio em países diferentes, no caso Canadá, México e Estados Unidos —medida bem-vinda por compartilhar custos.

Nas últimas décadas, o futebol consolidou-se como um grande negócio global. Entidades nacionais e regionais, como a poderosa Uefa, responsável pelo continente europeu, disputam espaço num mercado com receitas bilionárias.

Nesse contexto de globalização, o rico emirado do Qatar talvez ajude a ampliar e fortalecer a presença do futebol no mundo árabe —mas está longe de ser uma fonte de inspiração para os ideais do esporte.

editoriais@grupofolha.com.br

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