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Soraya Smaili

É hora de retomar a vacinação e o uso de máscaras em ambientes fechados

Aumento dos casos de Covid é prova de que a luta não pode parar

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Soraya Smaili

Farmacologista da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e ex-reitora da universidade (2013-2021); coordenadora do Centro SoU_Ciência

Quero fazer um alerta após dois meses de relativa tranquilidade. O coronavírus não nos deixou, e temos novo aumento de casos de Covid-19, o que causa muita preocupação.

Temos uma parcela significativa da população vacinada com duas doses, mas ainda 9% não tomaram qualquer imunizante —e estes se tornam reservatórios preferenciais para o surgimento de novas cepas.

Além disso, cerca de 50% da população não tomou a dose de reforço (a terceira dose) —o que é insuficiente, pois ela confere maior proteção contra a doença. Sem falar da baixa ou nenhuma vacinação das crianças.

Outra preocupação é a flexibilização quase total do uso de máscaras. A imensa maioria da população, ainda sem qualquer estímulo da parte dos governantes, acredita que o vírus não está mais entre nós. É um engano, pois o patógeno está se especializando, e novas subvariantes da ômicron estão surgindo e causam apreensão. É o caso das subvariantes BQ.1. e BA.2.75, que chegam ao Brasil e podem ser as responsáveis pelo aumento recente de casos que estamos verificando.

Por fim, por causar sintomas aparentemente "leves" da doença, há uma banalização e naturalização em "pegá-la". A Covid longa, porém, é uma realidade, e mesmo pessoas com sintomas leves da moléstia estão apresentando efeitos desagradáveis e limitantes, como cansaço, fadiga, perda de olfato e peso (principalmente de massa muscular), respiração ofegante, palpitações (taquicardia). Entre os efeitos que causam mais preocupação estão o desenvolvimento de diabetes, hepatite e perda de memória. E atenção: não são efeitos causados pelas vacinas, pois as pessoas desenvolvem apenas depois de terem a doença. Por isso, é chamada de Covid longa.

Precisamos tomar medidas urgentes. Retomar a vacinação, especialmente da dose de reforço e das crianças. Ter novos imunizantes, já aprovados em outros países, especialmente nos EUA. Não será uma quinta dose, mas uma vacina mais eficaz para combater a ômicron.

Urge campanhas efetivas contra a desinformação, com busca ativa de pessoas e a divulgação concreta de dados do sistema de saúde, com o fortalecimento do SUS. Também é importante retomar o uso de máscaras em ambientes fechados quando um aumento significativo do número de casos é detectado.

Acreditamos que o futuro governo tem como objetivo retomar o Plano Nacional de Imunizações (PNI), fazendo campanhas e alertando a população. Esperamos também apoio às pesquisas não só para vacinas e tratamentos efetivos que ainda não estão no Brasil, mas também para diagnóstico e tratamento da Covid longa. Será necessário fortalecer o SUS para que possa atender às centenas de milhares de pessoas que hoje estão com Covid longa e precisam de tratamento e reabilitação.

Temos esperanças de que isso comece já na transição dos governos. Dessa forma, o Brasil estará em linha com os organismos internacionais. Ao fortalecermos universidades, institutos de pesquisa e o SUS, formularemos novas e efetivas políticas públicas. Com um governo atento, superaremos esses desafios rapidamente. Continuaremos a luta contra o coronavírus, como estamos fazendo desde 2020. Mas, desta vez, com a força e a determinação de um governante que valoriza a ciência e a saúde de sua população.

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