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Walter Casagrande Jr.

A seleção brasileira deveria ser comandada por um treinador estrangeiro? SIM

Não há no país um profissional com trabalho consistente e vencedor

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Walter Casagrande Jr.

Comentarista, ex-jogador e colunista da Folha; é autor, com Gilvan Ribeiro, de “Casagrande e seus Demônios”, “Sócrates e Casagrande - Uma História de Amor” e “Travessia”

Será que nessa história de resistência a um treinador estrangeiro não há um pouco de preconceito estrutural? Isso pode acontecer sem que a gente perceba.

Vejo também corporativismo entre alguns treinadores antigos e atuais em não aceitar um estrangeiro dirigindo o "escrete canarinho", como se falava nos bons tempos do nosso futebol.

O tecnico Tite consola jogadores apos a derrota nos penaltis para a Croacia nas quartas de final da Copa no Qatar
O técnico Tite consola jogadores apos a derrota nos pênaltis para a Croácia nas quartas de final da Copa - André Durão/MoWA Press

Muitos desses treinadores trabalharam fora do Brasil e nunca se colocaram no lugar dos treinadores locais onde atuaram. Eu mesmo nunca tinha pensado na hipótese de um dia a seleção brasileira ter um técnico de fora porque via diversos ótimos treinadores com competência para o cargo.

Lembrando só de técnicos que comandaram o Brasil durante Copas do Mundo, temos alguns históricos, como Zagallo, Coutinho, Telê, Parreira e Felipão. Todos esses chegaram à seleção por merecimento ao trabalho e às ideias de futebol que tinham em suas respectivas épocas.

Eram diferentes uns dos outros, mas tinham em comum um modo de jogo supercompetitivo.

Agora, porém, a história é outra: não temos um profissional brasileiro que nos últimos cinco anos tenha mostrado um trabalho consistente, vencedor e com tempo de desempenho eficiente em algum clube.

O treinador dominante em todos esses pontos é o português Abel Ferreira, do Palmeiras, que ganhou tudo no continente sul-americano.

O Brasil entrou num modo de jogo defensivo, muito tático, que sugou a criatividade do jogador brasileiro; até aparecer o também português Jorge Jesus, fazendo o Flamengo exibir o melhor futebol dos últimos anos.

Os treinadores brasileiros começaram então a perder espaço, e os estrangeiros foram mostrando resultados.

O melhor trabalho feito no Brasil, além do de Abel Ferreira, é do argentino Juan Pablo Vojvoda, no Fortaleza.

Ficar insistindo em brasileiros, no momento incapazes de assumir esse papel, será um grande erro —e talvez se torne perda de tempo irrecuperável mais tarde.

Apoio totalmente termos agora um treinador estrangeiro. É fundamental fazer uma limpeza geral de comportamento e ideias dentro do nosso futebol.

É muito importante quebrar essa "panela" de influência externa que existe desde 2002. Para isso, será necessário alguém grande, vitorioso e respeitado, com personalidade. E que não caia na conversa de interessados em transitar pelo ambiente da seleção só a fim de levar vantagens.

Gosto do nome do Abel Ferreira. Mas, a partir do ponto que citaram o Carlo Ancelotti, eu parei de brincar de sugerir nomes —até porque esse é irretocável.

Defendo a "dobradinha" Carlo Ancelotti como treinador e Paulo Roberto Falcão como diretor de seleções.
Os dois jogaram e ganharam campeonato juntos na Roma do início dos anos 1980.

São amigos e se admiram, se respeitam e entendem muito de futebol mundial.

O Paulo poderá mostrar ao "Carleto" como funciona o Brasil como país, como é a relação torcida-imprensa-treinador para deixá-lo livre para pensar somente em formar a nova seleção.

É uma parceria em condições de mudar o ambiente da seleção, que é rodeado de "tubarões famintos" por interesses próprios.

A CBF precisa ser firme, e o seu presidente deve estar atento para não se deixar envolver por questões de fora.

Quem resiste a estrangeiros sem apresentar argumentos precisa refletir por que está resistindo. Tem algum brasileiro melhor? Será que não há uma espécie de xenofobia estrutural nessa discussão?

Aqui ao lado, PVC defende o "não" sob argumentos e sem xenofobia. E os outros?
Por tudo isso, eu digo "sim"!

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