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Calcanhar de Aquiles

Bolsonarista para a Segurança paulista expõe flanco frágil da gestão Tarcísio

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Capitão Derrite (PL), indicado como futuro secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo - Wesley Amaral/Câmara dos Deputados

Desde a campanha eleitoral, a segurança pública se configura como calcanhar de Aquiles do agora governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Enquanto trabalhava a imagem de um tecnocrata de centro-direita moderado, Tarcísio saiu-se muito bem e abocanhou o eleitorado conservador que manteve o PSDB por três décadas no poder.

Quando se mostrou bolsonarista, como no debate da segurança, escorregou. Apesar de problemas como os sequestros associados a saques pelo Pix, a área teve notável avanço recente em indicadores.

Ainda assim, Tarcísio defendeu inicialmente rever o programa de emprego de câmeras nos uniformes dos policiais militares, iniciado por João Doria (então PSDB). Nos batalhões em que foi implementada, a iniciativa reduziu a letalidade policial em 85%.

O então candidato tomava emprestado o raciocínio bolsonarista segundo o qual o PM seria constrangido pela câmera, o que não faz nenhum sentido se ele estiver dentro da lei. Pressionado, recuou e disse que iria ouvir especialistas.

Eleito, o ex-ministro da Infraestrutura, sacado por Jair Bolsonaro (PL) para a disputa sem experiência prévia, buscou consolidar a imagem de moderação ao indicar Gilberto Kassab —líder do PSD, um de seus fiadores políticos— como homem-forte do governo

Só que há uma conta a pagar ao grupo ligado a Bolsonaro, a quem deve carona na votação vitoriosa em São Paulo, tendo unido moderados e radicais à direita.

Assim, o futuro governador indicou para a Segurança um bolsonarista, Capitão Derrite, recém-reeleito deputado pelo PL-SP. Surgido das entranhas digitais apoiadoras do presidente, o jovem de 38 anos fez fama como um bombeiro de postagens incendiárias.

Sua nomeação gerou controvérsia, não apenas pela visão linha-dura que inclui a oposição às câmeras. Oriundo dos estratos subalternos da PM, ele altera o equilíbrio de poder com a Polícia Civil ao defender que os militares também tenham poder de investigação, o que é vetado pela Constituição.

Isso provocou reações de integrantes do Judiciário e de policiais civis, que Tarcísio busca contornar ao convidar o atual delegado-geral para ser o número 2 da secretaria.

Além disso, o episódio acirra a polarização política. Nêmesis do bolsonarismo, o ministro do STF Alexandre de Moraes retém influência entre os grupos agastados com a escolha de Derrite —herança de sua passagem pela Segurança paulista em 2015-16.

A crispação agita uma área em que manejo técnico é primordial, algo ameaçado por anos de tentativa do bolsonarismo de insuflar a tropa com o golpismo de seu líder.

editoriais@grupofolha.com

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