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Luiz Barroso, Rafael Kelman e Benjamin Sicsú

Transição energética com novos empreendimentos e empregos

Nosso modelo deve buscar desenvolvimento econômico e combate à pobreza

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Luiz Barroso, Rafael Kelman e Benjamin Sicsú

Respectivamente, presidente e diretor da PSR e presidente do Conselho da Fundação Amazônia Sustentável (FAS)

A preocupação com as mudanças climáticas causadas pelos gases de efeito estufa tem levado diversos países a concentrar esforços na redução da emissão por parte do setor energético, que é responsável por mais de 70% da emissão total na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia.

Graças ao etanol que move nossos carros e às usinas que produzem eletricidade a partir da água, sol, vento ou biomassa, o setor energético brasileiro é responsável por menos de 20% das emissões, e o subsetor de energia elétrica por menos de 3%. Como a energia renovável no Brasil já passou da fase de depender de subsídios, o nosso custo para diminuir a emissão de gases de efeito estufa será muito menor do que o dos principais países desenvolvidos. Somos hoje o que eles pretendem ser daqui a algumas décadas de intensos investimentos e incentivos.

Por outro lado, o desmatamento é responsável por cerca da metade das emissões. Ou seja, nossa atuação para mitigar as mudanças climáticas deve focar no controle do desmatamento ilegal, particularmente na Amazônia, e na criação de condições para que a população local faça uso sustentável e lucrativo da floresta.

Como o Brasil e os países desenvolvidos têm situações energéticas muito diferentes, é natural que as correspondentes agendas de transição energética sejam também distintas. A nossa deve ser subordinada à meta da retomada do desenvolvimento econômico e combate à pobreza, transformando o Brasil numa potência de energia limpa. Está ao nosso alcance transformar vantagens comparativas em competitivas.

Para isso, é fundamental estabelecer parcerias com os países desenvolvidos, mudando radicalmente, e para melhor, a desgastada imagem do Brasil.

É possível que o forte investimento global, que ainda busca avanços tecnológicos para viabilizar a produção de hidrogênio verde economicamente competitivo, produza nos próximos anos oportunidades para o país. Das diversas rotas tecnológicas que estão em gestação ou aprimoramento e que possuem ajuste perfeito com o Brasil, destacamos: 1 - eletrólise, aproveitando o alto percentual de energia elétrica renovável disponível no Sistema Interligado Nacional; 2 - conversão do etanol, possivelmente realizada no país importador (nesse caso, o próprio etanol funcionaria como o carrier do hidrogênio); e 3 - uso do gás natural renovável (biometano produzido a partir de nossa abundante biomassa).

Essa vocação nacional de ser produtor de bens de alto valor agregado e baixo conteúdo de carbono poderá ser turbinada se vier a ser implementado um mercado global de carbono, como previsto no artigo 6 do Acordo de Paris. Natalie Unterstell e Marcello Brito, nossos companheiros do Derrubando Muros, destacaram, em artigo publicado nesta Folha ("Economia verde e geopolítica", 11/10/22), que a agenda verde não é mais assunto desconectado da agenda do desenvolvimento. Ao contrário, é alavanca para nossa melhor inserção na economia mundial.

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