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O que a Folha pensa juros

Lula, teoria e prática

Com regra fiscal adiada, presidente alimenta falatório e dúvidas sobre rumos

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Adriano Machado/Reuters

Para a sorte do país, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não converte em atos de governo todos os disparates econômicos que propaga com regularidade —ou até seria difícil saber o que esperar de um presidente capaz de dizer que "livros de economia estão superados".

Em casos mais palpáveis, Lula atacou as metas de inflação, mas não usou seu poder para alterá-las; diz que a responsabilidade fiscal é inimiga da responsabilidade social, mas autorizou seu ministro da Fazenda a buscar medidas para atenuar o déficit do Tesouro.

O ministro da Previdência foi desautorizado quando falou em rever a reforma da aposentadoria. Reverteu-se, isso sim, sua tentativa desastrada de baixar na marra os juros dos empréstimos consignados para beneficiários do INSS.

Nas medidas não se vê, ao menos até aqui, a convicção arrogante que Lula exibe quando fala a plateias e entrevistadores amigáveis —ou seria ainda maior o estrago que já provocou nos juros de mercado com afirmações impensadas.

No governo, o feudo das velhas ideias do PT e do dito desenvolvimentismo foi instalado no BNDES, que na segunda (20) promoveu seminário para contestar a austeridade orçamentária e as taxas de juros do Banco Central.

Não há clareza sobre qual será a resultante desse jogo de pressões —e a misteriosa regra de controle do gasto público recém-proposta pela Fazenda ao Planalto por ora só alimenta as dúvidas. Como se anunciou nesta terça, a divulgação do texto foi adiada, supostamente para mais debates internos.

Do lado político, petistas dizem temer que um aperto fiscal e monetário provoque uma recessão que derrubará a aprovação popular ao governo. O cálculo se baseia em premissas equivocadas.

O Brasil tem gasto público alto para padrões globais e, pelo que se projeta, registrará neste ano um dos déficits orçamentários mais elevados entre as principais economias ricas e emergentes. Não é por falta de despesa do governo que o PIB está em desaceleração.

Os juros subiram para conter a inflação, aqui e no mundo. A taxa nacional de 13,75% ao ano constitui uma anomalia, é verdade, e um dos motivos principais é justamente o desequilíbrio fiscal.

Reduzir os juros decerto favorece o crescimento econômico, mas não é condição suficiente, nem eficaz se mal conduzida. Recorde-se que, no primeiro governo Lula, a Selic chegou a 26,5% e não caiu abaixo de 13,25%, e o PIB teve bom desempenho. Já sob Dilma Rousseff (PT), a queda forçada a 7,25% resultou em inflação que levou à escalada recessiva da taxa para 14,25%.

São lições que PT e Lula deveriam ter aprendido com a prática, mesmo rejeitando os livros de teoria.

editoriais@grupofolha.com

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