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Tragédias nas escolas

Alta nos ataques exige protocolo baseado em evidências, não solução imediatista

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Ex-alunos no velório de Elizabeth Tenreiro, professora assassinada em ataque à Escola Thomazia Montoro, em São Paulo (SP) - Bruno Santos/ Folhapress

Casos de adolescentes que invadem escolas matando estudantes e professores são fenômenos típicos dos EUA, mas dados apontam que tais tragédias vêm se tornando mais comuns no Brasil.

Segundo levantamento de pesquisadores da Unesp e da Unicamp, entre 2002 e julho de 2022 aconteceram 13 ataques perpetrados por alunos ou ex-alunos em escolas do país, causando 28 mortes —em média, pouco mais de um ataque a cada biênio e 1,4 óbito por ano.

A estatística do período já deveria causar preocupação, mas o cenário a partir de agosto de 2022 se mostra muito mais alarmante. Nos último oito meses, foram nove atentados e sete mortes, o que representa escalada abrupta de violência, com cerca de um ataque a cada 30 dias e quase um óbito por mês.

Diferentemente do que se vê nos Estados Unidos, onde se usam pistolas e até metralhadoras, aqui em apenas 12 episódios do período estudado os agressores empregaram armas de fogo —uma evidência a favor da legislação brasileira, que favorece o desarmamento.

Contrariando os fatos, entretanto, correntes conservadoras, bolsonaristas em particular, alegam que a liberação do porte de armas seria uma das soluções para a onda de ataques, além de advogarem redução da maioridade penal.

Criar leis e elevar penas em momentos de comoção, porém, não costuma ser abordagem eficiente para um problema de segurança.

A pesquisa da Unesp e da Unicamp mostrou que jovens agressores têm perfil semelhante: manifestam comportamento machista e violento, cultuam armas, são isolados, apresentam histórico de distúrbio psiquiátrico e convivem com desemprego e violência doméstica no ambiente familiar.

A motivação do crime geralmente têm relação com vingança por ciúmes ou bullying. Jovens com motivações do tipo se encontram em fóruns, redes sociais, jogos online e sites da chamada deep web (internet profunda, onde há atividades ilegais), compartilhando raiva, violência e machismo.

Com base nesse diagnóstico, há protocolos de segurança sugeridos por especialistas.

Entre eles, capacitar professores, funcionários e pais para identificar alterações de comportamentos, além de falar sobre preconceito, agressividade e internet em sala de aula. Uma atuação da inteligência de órgãos de segurança sobre sites e fóruns anônimos da deep web também é cogitada.

Pela ligação com a expansão do ambiente online e um acirramento do embate ideológico, os ataques às escolas são sintomas de um cenário novo e de difícil compreensão. Políticas públicas de longo prazo são mais indicadas do que soluções radicais e imediatistas.

editoriais@grupofolha.com

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