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Como proteger escolas

Eficácia de guarda armada para evitar ataque é duvidosa; há que combinar medidas

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Vigília pelas crianças assassinadas no ataque à creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenal (SC) - Anderson Coelho/AFP

De 2002 a julho de 2022, aconteceram 13 ataques em escolas do país. A partir de agosto do ano passado, teve início uma escalada: nove ataques até março, e três só em abril.

É natural que a população fique comovida, indignada, com medo. Contudo é papel do poder público agir de modo racional, com base em evidências. A sociedade pode ser passional, o Estado não.

O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), anunciou que pretende colocar uma pessoa armada em cada escola do estado. A ideia é contratar policiais aposentados para cumprir a função.

Os EUA, que convivem há mais tempo com o problema, já testaram esse tipo de combate. Mas há pouca evidência de que ele de fato impeça ou contenha massacres.

Desde a tragédia na Columbine High School (Colorado) em 1999, considerado marco da violência escolar naquele país, foram registrados 377 incidentes do tipo, mesmo com o aumento contínuo de mecanismos de controle.

De 2017 a 2021, o investimento americano em segurança escolar cresceu 14%, chegando a US$ 3,1 bilhões. Entre 2017 e 2018, metade das unidades de ensino tinha controle total do acesso a suas dependências, incluindo detectores de metais; hoje, são dois terços. Ademais, em 51% delas há vigilantes munidos com armas de fogo.

Dos últimos 24 anos, entretanto, aqueles em que registraram mais ataques foram 2022 (47 casos) e 2021 (42) —período no qual a estrutura de segurança, até mesmo a armada, estava consolidada, com recorde de gastos.

Pesquisa publicada em 2019 no Journal of Adolescent Health analisou 179 tiroteios de 1999 a 2018 e concluiu que manter guardas armados não reduziu a letalidade.

Já estudo do Instituto Nacional de Justiça dos EUA, de 2021, cobriu os incidentes entre 1980 e 2019 e verificou que o número de mortes em escolas com agentes armados era quase o triplo do ocorrido naquelas sem esse tipo de proteção.

Especialistas apontam que, apesar de efeitos positivos, como reduzir brigas entre alunos, a presença de guardas armados não é a única medida, nem a mais efetiva, a tomar. Uma opção, por exemplo, é criar canais seguros de denúncias —estima-se que, em 4 de cada 5 casos, alguém conhecia de antemão os planos do criminoso.

Trata-se de um fenômeno nefasto e de difícil combate, dada a complexidade de fatores. Há várias alternativas de resposta, com dados a sustentá-las. Espera-se que o poder público as combine de modo eficiente para proteger a vida de alunos e professores brasileiros.

editoriais@grupofolha.com.br

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