Opção pelo fio da navalha

Haddad escolheu o caminho mais difícil: agradar a Lula e a Faria Lima ao mesmo tempo

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Brasília

A nova regra fiscal conseguiu a inesperada proeza de desagradar a gregos e troianos. Os analistas de mercado ficaram desanimados com o consolidado enviado ao Congresso, bem como boa parte da chamada ala política do governo, que, não tenham dúvidas, inclui também vários economistas.

Essa peculiaridade está no fato de o arcabouço apresentado pela equipe econômica propor um aperto maior nas contas públicas logo de saída. Seus detratores afirmam que isso pode limitar a liberação dos recursos necessários para o cumprimento de promessas de campanha firmadas em viva voz pelo presidente da República. Ficaria em xeque promover o reajuste real do salário mínimo como política de Estado, por exemplo.

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concede entrevista no prédio do Banco do Brasil, na capital paulista - Ronny Santos/Folhapress - Folhapress

Ao mesmo tempo, a nova regra não consegue garantir aos ditos fiscalistas aquilo que eles mais pedem, uma trajetória de gasto que sinalize a estabilização, seguida de queda, da dívida. O ajuste das contas públicas depende de um extra na receita na casa de três dígitos, e não há garantia de que seja possível angariar o montante no prazo prometido. Os descrentes vão esperar para ver.

Sem juízo de valor, econômico ou ideológico, o ministro Fernando Haddad escolheu a estratégia mais difícil: não quer desagradar os interlocutores que lhe interessam, o presidente Lula no governo e a Faria Lima no mercado financeiro.

A opção equivale a fazer uma gestão sob o fio da navalha. Qualquer deslize sempre vai terminar em arranhão, seja financeiro ou na imagem, não apenas da Fazenda, mas de todo o governo.

O exemplo foi dado nesta semana.

Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento tributário entende a necessidade de se criar algum mecanismo para coibir as compras online em plataformas asiáticas. Ironicamente, podemos dizer que fazem planejamento tributário digital para vender produtos mais baratos. Mas um mínimo de juízo político e de sensibilidade social teria antecipado a forte reação popular contra a medida na forma como foi anunciada.

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