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Desejo de imigrar entre latino-americanos cresce em meio a caudilhismos e crises

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Imigrantes venezuelanos aguardam autorização para entrar nos EUA, em El Paso (Texas) - Herika Martinez/AFP

Estima-se que 2,3% da população mundial, algo como 184 milhões, seja de imigrantes, e pesquisa recente do Instituto Gallup revelou que, em 2022, cerca de 1,2 bilhão de pessoas declararam que gostariam de deixar de maneira definitiva o país onde moram —o que corresponde a 15% da população global.

O índice varia, previsivelmente, conforme a região. Na União Europeia, 16% migrariam; já na Comunidade dos Estados Independentes (países da ex-União Soviética), são 12% —a Ucrânia, em guerra, aí se localiza. Com 4%, o Leste Asiático tem o menor índice.

O desejo de mudar é maior no Oriente Médio e Norte da África (29%), na África Subsaariana (36%) e na América Latina e Caribe (31%). Esta última região, em comparação com pesquisa realizada na década anterior, foi a que teve maior alta na comparação com o início da década passada: em 2011, não mais de 18% dos latino-americanos diziam querer morar em outro país.

É razoável supor que a economia seja um dos fatores relacionados a esse crescimento. Na década de 2001-10, favorecida pela alta das matérias-primas de exportação, a economia latino-americana teve expansão média de 3,2% ao ano. Desde então, o ritmo despencou para 1,5% anual.

Note-se que existem dois tipos de migração, a voluntária e a forçada. Na primeira, o deslocamento se dá por uma conjuntura desfavorável, como insatisfação com a qualidade de vida; na segunda, guerras e regimes autocráticos podem ser os fatores. A América Latina consegue combinar os dois casos.

Na Venezuela, nada menos que 7 milhões de pessoas deixaram o país do ditador Nicolás Maduro nos últimos anos, seja por perseguição política, seja pelo colapso social.

Já na Argentina, país democrático, a crise econômica —a inflação bateu recorde em abril e chegou a 109% em 12 meses— têm gerado aumento na imigração.

Com o empobrecimento da população, somado ao arrefecimento da pandemia de Covid-19, o número de argentinos que se mudaram para o Brasil passou de 5.424 em 2019 para 6.601 em 2022; em 2011, foram 2.942.

Diferentemente do Leste Europeu e do Oriente Médio, a América Latina não vive em tensão geopolítica crônica, fator indutor de migrações. Por aqui, entretanto, proliferam caudilhismos e políticas econômicas anacrônicas, que levam cidadãos a buscarem uma vida melhor em outro lugar.

editoriais@grupofolha.com.br

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