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Escolhas de Tarcísio

Governador, que permitiu tributo a nome da ditadura, terá decisões mais difíceis

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Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Desde a campanha eleitoral, e sobretudo após conquistar o governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos) segue uma estratégia bem ensaiada para se firmar no cenário político nacional.

Apresenta-se como técnico experiente, que prioriza a melhoria da gestão pública; de pensamento liberal em economia, mas avesso a guerras culturais e ideológicas; à direita, mas disposto ao entendimento com outras forças.

Se tal imagem é compatível com sua trajetória na vida pública, não é menos verdadeiro, porém, que Tarcísio deve seu ingresso na política e a cadeira no Bandeirantes a Jair Bolsonaro (PL), e os seguidores do ex-presidente ainda constituem a base de apoio mais segura ao ex-ministro da Infraestrutura.

Com Bolsonaro tornado inelegível, um pupilo em posto de tamanha projeção será naturalmente encarado como candidato à sucessão presidencial. O governador terá de praticar sob os olhos mais atentos do eleitorado seu equilibrismo entre a busca de uma identidade e a fidelidade ao criador.

Fugir de escolhas não será possível, como se vê agora no caso vexatório da homenagem sancionada pelo governo Tarcísio a um personagem simbólico da repressão no período da ditadura —o coronel Erasmo Dias, morto em 2010.

A Assembleia Legislativa teve a ideia funesta de dar o nome do militar, ex-secretário estadual de Segurança e ex-deputado, a um entroncamento de rodovias na região de Paraguaçu Paulista. O projeto dependia da sanção do Executivo, que acabou assinada pelo vice-governador, Felício Ramuth (PSD). Tarcísio estava fora do país.

Erasmo Dias defendeu até o final da vida a medida que marcou sua participação no regime autoritário —uma violenta intervenção policial em um ato de estudantes da PUC-SP, no ano de 1977. O atual governador de São Paulo provavelmente não diria o mesmo, mas tampouco se dispôs a impedir a homenagem ao mentor da invasão.

O figurino de gestor pragmático e avesso a embates tem alcance limitado quando há forças políticas relevantes propensas a atacar os valores democráticos. Venha a ser ou não candidato ao Planalto, Tarcísio terá pela frente decisões mais difíceis que o nome apropriado de uma via rodoviária —e elas envolverão personagens vivos.

editoriais@grupofolha.com.br

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