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Daniela Rizzi, Cecília Herzog e Wilson Cabral de Sousa Junior

Cidades podem fazer muito mais para reduzir alagamentos

Intervenções que respeitam fluxos naturais podem trazer série de benefícios

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Daniela Rizzi

Doutora em planejamento paisagístico (Universidade Técnica de Munique), é especialista sênior em Soluções baseadas na Natureza e Biodiversidade no Iclei Europa

Cecília Herzog

Paisagista, é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professora e pesquisadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio

Wilson Cabral de Sousa Junior

Professor e pesquisador do Núcleo de Estudos em Infraestrutura, Ambiente e Sustentabilidade (Ninfa) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)

A Prefeitura de São Paulo anunciou um amplo programa de investimentos para canalizar 57 córregos do município até o final de 2024. O motivo é nobre: reduzir os impactos das chuvas em áreas urbanizadas.

Considerado o maior programa de canalização de córregos já realizado até hoje na capital, com aporte de R$ 630 milhões, o plano promete uma série de benefícios para a população. Mas será que as obras em curso são, realmente, a melhor escolha para a cidade?

imagem aérea mostra córrego estreito cortando bairro de casas
Córrego Zavuvus, na zona sul de São Paulo - Divulgação/TCM-SP - Divulgação/TCM-SP

Nosso imaginário ainda é dominado pela necessidade de investimento em grandes obras de engenharia convencional para solucionar os problemas urbanos. Contudo, foram esses projetos que potencializaram vulnerabilidades por tentarem controlar os processos e fluxos naturais, com impermeabilização do solo e canalização dos cursos d’água.

Em contraponto a essa lógica, intervenções que respeitam os processos e fluxos naturais podem trazer ampla gama de benefícios. Projetos com Soluções baseadas na Natureza (SbN) têm se mostrado mais eficazes na mitigação de inundações, como também economicamente mais vantajosos e com melhoria na qualidade de vida e bem-estar dos moradores. São ações para proteger, conservar, regenerar, usar de forma sustentável e gerir ecossistemas terrestres, de água doce, costeiros e marinhos naturais ou modificados, abordando desafios sociais, econômicos e ambientais de forma eficaz e adaptativa, ao mesmo tempo em que proporcionam bem-estar humano, serviços ecossistêmicos, resiliência e aumento da biodiversidade.

Em lugar de canalizar córregos, impondo-lhes margens rígidas, técnica que já se mostrou inócua em diversas situações, seria muito mais benéfica a mudança de paradigma, com a criação de áreas naturais para amortecimento do escoamento superficial, com o aumento da capacidade de detenção, retenção e infiltração das águas pluviais. Os cursos d’água podem —e devem— ser requalificados e "renaturalizados" sempre que possível.

As Soluções baseadas na Natureza também contribuem para a saúde das pessoas e dos ecossistemas locais, melhoram a qualidade do ar, da água e do solo e amenizam a temperatura urbana, com a mitigação do "efeito ilha de calor". Portanto, investir em SbN também é uma estratégia eficiente para adaptação às mudanças do clima.

Um ponto positivo do plano anunciado pela Prefeitura de São Paulo é a criação de parques lineares ao longo do leito dos rios. Isso representa uma oportunidade ímpar para adotar infraestrutura natural em áreas multifuncionais, com a incorporação de espaços verdes de lazer, atividades físicas e recreativas para todos os moradores.

É urgente que as autoridades municipais considerem a adoção de SbN em seu planejamento e execução de projetos, principalmente relacionados aos rios e córregos urbanos, em macro e microdrenagem. Ao fazer isso, a cidade de São Paulo poderá se tornar um exemplo de inovação sustentável e colaborar para a construção de um futuro mais resiliente e saudável para seus habitantes, favorecendo a natureza e a biodiversidade urbana, também com impactos positivos para a economia.

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