Evidências de desaceleração da economia chinesa precedem a pandemia de Covid-19, mas ficaram mais claras com a frustração da retomada esperada em 2023.
O impulso ao crescimento esgotou-se rapidamente. Nos últimos meses houve estagnação de vendas no varejo e queda da produção industrial e das exportações, a ponto de colocar em dúvida a meta do governo de expandir o Produto Interno Bruto em 5% neste ano.
Pior, os dados mais recentes indicam crescimento potencial adiante abaixo de 3%. Observa-se deflação no atacado e nos preços ao consumidor. Cortes das taxas de juros, já em torno de 2,5% ao ano, e ampliação do crédito não têm sido suficientes para reverter o quadro.
O diagnóstico que vai se firmando é o de uma economia desbalanceada, com insuficiência crônica de consumo interno e dívidas excessivas de empresas estatais e governos locais, legadas por muitos anos de investimentos cada vez menos produtivos em infraestrutura e construção civil.
Do lado das famílias, num sistema financeiro fechado, os imóveis foram o principal destino da poupança, com aumento dos preços de moradias nas últimas décadas, que agora parece ter chegado ao fim.
Devido à erosão do valor de seu principal patrimônio, os cidadãos têm a confiança abalada e compram menos —a parcela do consumo no PIB é de apenas 38% no país, contra cerca de 70% nos EUA.
No agregado, esgotada a fase ascendente, configura-se um quadro de fragilidade financeira, que revela viés recessivo conforme os agentes contraem seus gastos. Juros mais baixos se mostram inócuos, como observado no Japão a partir da década de 1990.
É pertinente a comparação com a experiência japonesa, na qual o vigoroso crescimento da economia do país foi seguido por anos de fraco desempenho, em vez de uma crise financeira do tipo ocidental. A demografia é outro paralelo relevante —a população da China pode estar em declínio mais rápido que o esperado.
A questão mais importante é como reagirá o governo central de Xi Jinping. Até agora, o partido comunista segue a cartilha de sempre: mais crédito para infraestrutura e subsídios para a indústria.
Dobrar a aposta na alta da capacidade de oferta é a conduta mais alinhada ao propósito de controle político do governo. Mas também poderá agravar o problema principal, a escassez de consumo e serviços, que resulta em insuficiente geração de empregos.
A esta altura o receituário mais eficaz para impulsionar o crescimento seria aumentar drasticamente as transferências para famílias, algo que ainda parece distante do pensamento de Xi Jinping.
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