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Talentos perdidos

Efeitos da pandemia vão além da saúde e atingem o futuro dos alunos brasileiros

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Alunos voltam às aulas com distanciamento social após um ano de pandemia, em escola estadual de São Paulo (SP) - Rubens Cavallari - 8.fev.21/Folhapress

Estudo do Banco Mundial lançado em fevereiro aponta que governos precisam implementar políticas públicas para mitigar os efeitos negativos da pandemia na população mais jovem.

Isso porque a crise sanitária afetou o Índice de Capital Humano (ICH), que estima a produtividade futura de uma criança, considerando o que ela alcançaria com boa educação e assistência médica.

Em entrevista publicada pela Folha neste mês, o economista-chefe para Desenvolvimento Humano do órgão, Norbert Schady, disse que "choques como a pandemia podem desviar indivíduos de seu curso, reduzindo os níveis de acumulação de capital humano".

Ou seja, com o fechamento de escolas e a precarização da aprendizagem, aumentam os riscos de alunos dos ensinos fundamental e médio terem menores níveis de escolaridade e renda quando adultos.

Quanto mais jovem a criança, maior o impacto. No Brasil, a perda calculada de aprendizado de estudantes do 5º ano foi equivalente ao triplo ou mais da verificada entre os dos 9º e 12º anos —na comparação com grupos anteriores nessas mesmas faixas que não foram expostos à pandemia.

Ademais, o problema é mais grave em países e nos estratos sociais mais pobres. Em Bangladesh, constatou-se que as perdas no desenvolvimento cognitivo, linguístico e motor foram muito maiores em crianças cujas mães não tinham o ensino primário completo.

Outro estudo do Banco Mundial, específico sobre o Brasil, mostra que nosso ICH caiu de 0,6 em 2019 para 0,54 em 2021 —mesmo índice de 2009. Com isso, em vez de o brasileiro nascido em 2019 alcançar 60% do seu potencial aos 18 anos, ele alcançará 54%.

O Brasil foi um dos países que amargaram maior déficit de ensino presencial. Entre março de 2020 e março de 2022, uma criança em idade escolar perdeu na média global 37 semanas desse tipo de ensino. Na Europa e Ásia central, foram 14 semanas; aqui, 60.

O processo de aquisição de capital humano é cumulativo: o que ocorre na infância gera impactos na fase adulta e nas futuras gerações.

Quanto menor o ICH, menos conhecimento, inovação, produtividade e renda. É preciso que o Brasil saia desse ciclo vicioso com planos de recuperação e aceleração do aprendizado nos níveis federal, estadual e municipal. Não se pode continuar a embotar talentos em seu nascedouro.

editoriais@grupofolha.com.br

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