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Déficit universitário

Greve na USP por mais docentes expõe falha no custeio do ensino superior público

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Carteiras empilhadas por estudantes, que estão em greve, no prédio do curso de Matemática na USP - Danilo Verpa/Folhapress

A Universidade de São Paulo sempre figura nas primeiras colocações dos sistemas de avaliação da América Latina. No prestigiado ranking QS referente a este ano, retomou o primeiro lugar, que, em edições anteriores, estava com a Pontifícia Universidade Católica do Chile.

Na última década, a USP tem enfrentado problemas de caixa e reclamações do corpo discente sobre condições de ensino. As adversidades têm relação com falhas no sistema de financiamento das universidades públicas brasileiras.

Gastos com docentes e servidores administrativos consomem grande parte dos orçamentos das instituições, faltando verba para investimento em pesquisa, tecnologia e inovação, quando não para o custeio mais básico.

A USP —bem como as outras universidades paulistas, a Unicamp e a Unesp— seguem um modelo próprio e meritório de autonomia, pelo qual recebem parcelas fixas da arrecadação do ICMS do estado. Embora bem concebida, a regra deu margem a crises de gestão.

Enquanto a arrecadação tributária passou por um período de forte crescimento, as instituições puderam expandir tanto o número de alunos quanto conceder bons reajustes salariais aos docentes. Com a recessão profunda de 2014-16, a receita desabou e foi necessário promover ajustes que reduziram o quadro de pessoal.

A comunidade acadêmica sente ainda hoje os efeitos de tais solavancos. Desde o último dia 18, parcelas crescentes dos alunos iniciaram uma greve, reivindicando contratação de mais professores.

Entre 2002 e 2022, o número de estudantes subiu 32%, e o de docentes, só 5%. Havia 1 professor para cada 15 alunos, em média; agora a proporção é de 1 para 18, segundo a associação dos profissionais.

Já conforme o ranking Times Higher Education, a USP, que não está entre as 200 mais bem avaliadas do mundo, tem 13,9 alunos por docente, nada que destoe tanto do padrão de instituições de ponta.

Pelas estatísticas da OCDE, as universidades públicas brasileiras têm média de 10 estudantes por professor, abaixo, por exemplo, de França (18) e Canadá (21).

Percebe-se aí uma distorção na educação pública brasileira, que destina recursos desproporcionais ao ensino superior, frequentemente em favor de estratos mais ricos.

Urge implementar alternativas de financiamento, corriqueiras no restante do mundo, para que os beneficiários também contribuam para o sustento das universidades. Refratárias a esse debate, as instituições públicas sofrem diretamente com o atraso brasileiro.

editoriais@grupofolha.com.br

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