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O que a Folha pensa Venezuela

Acerto com o ditador

EUA trilham o caminho possível ao afrouxar sanções à Venezuela por eleições

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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro - Leonardo Fernandez Viloria/Reuters

Deve-se encarar com boa dose de cautela o acordo firmado entre a ditadura venezuelana e as forças de oposição do país para a realização de eleições minimamente competitivas no próximo ano.

Segundo o entendimento firmado em Barbados, no Caribe, a disputa pela Presidência poderá ocorrer, no segundo semestre de 2024, com a presença de observadores internacionais. Permanece indefinida, porém, a autorização do regime para que oposicionistas banidos participem do pleito.

Esses são os casos de Henrique Capriles, duas vezes candidato, Juan Guaidó, ex-líder do Legislativo que chegou a ser reconhecido como presidente interino por mais de 50 países, e María Corina Machado, tida hoje como um dos nomes mais fortes do antichavismo.

O histórico do ditador Nicolás Maduro não encoraja otimismo quanto à aceitação da alternância de poder em Caracas. Está no posto há dez anos, período em que radicalizou o populismo de esquerda iniciado por seu antecessor, Hugo Chávez, que governou de 1999 a 2013, quando morreu.

O crescente autoritarismo do regime perdeu os últimos escrúpulos em 2017, quando se forjou uma Constituinte para usurpar os poderes do Legislativo, no qual se formara uma maioria oposicionista.

O que pode fazer diferença agora são negociações com os EUA para o afrouxamento de sanções econômicas, em particular sobre o petróleo venezuelano, em troca dos avanços para a realização das eleições. Nesta semana já foi anunciado um alívio temporário.

Trata-se de um ganho precioso para um país econômica e socialmente devastado —o desastre produzido pelo chavismo tem poucos paralelos no mundo.

Passada e dilapidada a bonança do boom de commodities da década retrasada, o Produto Interno Bruto caiu aterradores 74% entre 2014 e 2020, o que o ensaio de recuperação dos últimos anos está muito longe de compensar. A inflação, que chegou a atingir cifras quase incalculáveis no período, ainda supera os 200% anuais.

A diplomacia se mostra o melhor caminho para lidar com a ditadura e a tragédia humanitária. O período de confronto, sob Donald Trump nos EUA e Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, revelou-se contraproducente —além de fornecer ao regime um inimigo externo a quem culpar pelos males que produziu.

editoriais@grupofolha.com.br

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