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O que a Folha pensa mudança climática

Agro é clima

Mitigar o aquecimento global não é incompatível com incremento da produtividade

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Gado pasta no Parque Nacional da Serra do Pardo, em São Félix do Xingu (PA) - Rogério Cassimiro/Folhapress

Imprevistos meteorológicos são contingências inerentes à agropecuária, que jamais impediram o crescimento dessa atividade no Brasil. Com as mudanças climáticas, a incerteza põe em risco a segurança alimentar, alerta a FAO, agência da ONU para o setor.

Relatório da organização, noticiado pelo jornal Valor Econômico, estimou em US$ 3,8 trilhões (cerca de R$ 19 trilhões) as perdas mundiais no campo, entre 1991 e 2021, por catástrofes climáticas —tal valor é quase o dobro do PIB brasileiro em 2022 (R$ 9,9 trilhões).

O cálculo baseou-se em quebras de safra geradas por secas, inundações, ciclones e ondas de calor, que todo ano reduzem a colheita de cereais em 69 milhões de toneladas, e a produção de carnes, laticínios e ovos em 16 milhões de toneladas.

A cada 12 meses, em média, a agropecuária global teve prejuízo de US$ 123 milhões (R$ 600 milhões). Isso equivale a ceifar 5% do PIB agrícola mundial em cada um dos 30 anos do período analisado.

Tais cifras constituem um alerta urgente para produtores: não há incompatibilidade entre combate ao aquecimento global e produção agropecuária. O campo é um dos maiores interessados na mitigação do efeito estufa e na adaptação do negócio ao aumento inaudito da imprevisibilidade atmosférica.

Eduardo Assad, pesquisador da FGV, informa que a mudança climática já cortou três semanas do período chuvoso no país, estreitando a janela de plantio. Altas temperaturas, ademais, tornam mais frequentes déficits hídricos em épocas decisivas para as culturas.

O agronegócio brasileiro tem grande contribuição a dar no enfrentamento da crise climática. Embora seus rincões mais atrasados defendam o desmatamento, há que estancar essa queima de florestas para abrir pastagens e novas áreas agricultáveis, nossa maior fonte de emissões de carbono.

Não faltam boas práticas que tanto reduzem os efeitos nocivos do agro quanto melhoram produtividade e rentabilidade —como recuperação de pastos degradados, consórcio de pecuária e floresta para dar sombra ao gado, redução da idade de abate, plantio direto, manejo adequado do solo etc.

A FAO estima que cada real investido na implementação dessas medidas mitigadoras pode trazer outros sete para a renda de famílias rurais. Chegou a hora da agricultura de baixo carbono, para alimentar um mundo cujo clima se deteriora a olhos vistos.

editoriais@grupofolha.com.br

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