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Leitura censurada

SC retira livros de bibliotecas; ofensiva à direita ignora problemas do ensino

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Alunos do 3º ano do ensino fundamental em escola pública de Joinville (SC) - Carlos JR/Folhapress

Jair Bolsonaro (PL) deixou o Palácio do Planalto, mas a estratégia de ideologização de temas culturais pela qual se elegeu e com a qual construiu o seu governo se mantém viva nas mentes de apoiadores do ex-presidente e de representantes da direita populista.

A educação é uma das áreas mais afetadas por essa lógica nefasta. Em vez de ser tratada como política pública de Estado, acaba sendo manipulada por interesses políticos que pouco ou nada contribuem para a melhoria do ensino.

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por exemplo, há anos tem sido acusado, sem bases sólidas, de doutrinação ideológica. Por mais que o fenômeno possa ser observável pontualmente, setores radicais da direita exageram seu alcance para criar uma pauta conservadora que lhes renda votos.

No caso mais recente, o governo de Jorginho Mello (PL) em Santa Catarina mandou recolher nove obras literárias das bibliotecas escolares do estado. No ofício, não há justificativa para o ato autoritário, e a Secretaria de Educação se recusou a informar para esta Folha os critérios utilizados para a seleção.

Alega-se que os livros serão redistribuídos de acordo com a faixa etária dos alunos, mas note-se que os títulos não eram usados em sala de aula, apenas faziam parte de um acervo literário.

Na lista, estão obras de terror, de ficção científica, sobre bullying e até mesmo sobre neurociência e a história do nazismo.

Antes de censurar livros, o poder público deveria se preocupar com os estudantes que nem sequer conseguem lê-los ou entendê-los.

No Brasil, são muitos. Tivemos desempenho pífio no Pirls, prova internacional que avalia a alfabetização de alunos do 4º ou do 5º ano do ensino fundamental. Entre 65 países, ficamos na 60ª posição.

Pesquisa da ONG Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional, com base nos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica de 2021, revelou que apenas 31,3% dos estudantes concluem o ensino médio com aprendizado adequado em língua portuguesa.

Em vez de manipular a educação pelo viés ideológico em busca de resultados nas urnas ou alaridos nas redes sociais, políticos deveriam se preocupar em alocar de forma sensata os recursos do setor, melhorar a formação de professores, incrementar a infraestrutura das escolas.

editoriais@grupofolha.com.br

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