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O que a Folha pensa mudança climática

Ambiente arejado

Ano tem saldo positivo com retomada da pauta verde no Planalto e na diplomacia

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Área de reserva ambiental em Alta Floresta (MT) - Eduardo Knapp/Folhapress

O ano de 2023 principiou, no Brasil, com boas novas para o meio ambiente. Marina Silva retornou à Esplanada e deslanchou medidas que derrubariam o desmatamento na Amazônia; o garimpo na Terra Indígena Yanomami passou a ser reprimido; o Itamaraty retomou sua trajetória na diplomacia climática, truncada no quadriênio de negacionismo antiglobalista sob o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Após 12 meses, o panorama doméstico e externo se anuviou um tanto. A COP28 admitiu, com três décadas de atraso, que combustíveis fósseis turbinam o aquecimento global, mas sem detalhar como será a proeza de cortar 43% as emissões de carbono, até 2030, para cumprir-se o Acordo de Paris.

E isso num ano que caminha para se tornar o mais quente em 125 milênios. Eventos climáticos extremos se avolumam, com rios amazônicos transformados em bancos de areia, cidades do Sul convertidas em lagos e a safra de soja interrompida pela ausência de chuva na época esperada.

Faltam urgência e coerência à maioria dos governos. No Brasil, seguindo a manada fóssil, o Planalto comemorou a adesão à Opep+ na mesma semana em que o Consenso de Dubai era manietado na sede de um petroestado.

Não bastasse o tropeço, ato contínuo realizou um megaleilão de blocos petrolíferos e de gás natural. Nada se aprendeu em Brasília com as promessas descumpridas do pré-sal em que se lambuzara Luiz Inácio Lula da Silva (PT) noutro mandato. A miragem desenvolvimentista agora ressurge na margem equatorial da Amazônia.

Para cada passo em frente, dá-se um para trás. O garimpo volta a infernizar ianomâmis e outros povos originários. Dominado pela ala do centrão ligada ao agronegócio, o Congresso ressuscita a controversa tese do marco temporal, se contrapondo à decisão do STF.

Mais que derrubar o desmatamento, o Ministério do Meio Ambiente assiste ao seu deslocamento da Amazônia (9.001 km² derrubados) para o cerrado (11.012 km²), um bioma com metade da extensão da floresta tropical. Para complicar, a agropecuária pujante do Centro-Oeste constitui importante celeiro da ideologia antiambiental bolsonarista.

Apesar dos percalços, a situação do ambiente no Brasil, hoje, está sobejamente melhor. Sua preservação enfrenta resistências, porém o embate por políticas públicas pró e contra a natureza ou o clima transcorre na arena pública democrática, não em reuniões palacianas sem transparência.

O ano de 2024 será decisivo para fazer a pauta amadurecer e evitar que o país passe vergonha na COP30, a realizar-se em Belém do Pará no ano seguinte.

editoriais@grupofolha.com.br

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