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O que a Folha pensa mudança climática

O elefante na COP28

Com lobby do petróleo, cúpula só sinaliza fim do uso de combustíveis fósseis

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Sultan Ahmed al-Jabe (centro), presidente da COP28, comemora aprovação do texto final, em Dubai (Emirados Árabes) - Giuseppe Cacace/AFP

Os combustíveis fósseis são responsáveis por 75% das emissões de gases que produzem o efeito estufa. Não à toa, o debate sobre essa matriz energética dominou a COP28, a conferência do clima da ONU.

Contudo o encontro terminou na quarta (13) com um texto de tom eufemístico a respeito do plano global para atacar o problema.

Durante as negociações, mais de 100 dos cerca de 200 países exigiam uma linguagem forte que deixasse claro, a investidores e governos, que o futuro da humanidade não comporta mais o uso de petróleo, carvão e gás natural. Entretanto não conseguiram incluir as palavras "eliminar gradualmente" sobre a queima desses combustíveis no documento final.

A forte oposição do lobby dos produtores de petróleo, a Opep, fez com que o texto indicasse só "transicionar". Para a entidade, seria suficiente reduzir emissões sem abandonar por completo algumas matrizes.

De todo modo, desta vez os países admitiram a presença do elefante na sala. Especialistas e ambientalistas apontam que ao menos houve um sinal para que se eliminem emissões do tipo, apesar do contexto sui generis da COP 28.

Além de ser realizada na capital dos Emirados Árabes, um expoente da produção petrolífera, a cúpula teve recorde de 2.456 lobistas ligados ao combustível. Ademais, o presidente da conferência, Sultan al-Jaber, é CEO da Adnoc, a gigante petroleira estatal do país.

Com 1.337 inscritos, a delegação do Brasil foi a maior do evento. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reforçou que é preciso "tirar o pé do acelerador das energias fósseis" para cumprir a meta do Acordo de Paris (2015) de manter o aumento da temperatura média mundial abaixo de 2ºC (preferencialmente em 1,5ºC).

O Brasil manifesta ambiguidade entre o discurso ambientalista do governo e a expansão doméstica da prospecção de petróleo. Além da controversa exploração na margem equatorial, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) deu início na quarta (13) ao leilão de 192 novos blocos para extração de petróleo, alguns em sensíveis regiões de conservação ambiental.

Este 2023 foi o ano mais quente da história e, segundo relatório divulgado na COP28, baterá recorde em emissões de gases por combustíveis fósseis, com 36,8 bilhões de toneladas métricas de carbono. O texto da conferência foi um primeiro passo, mas o caminho é longo e, sem medidas firmes, o destino do planeta segue ameaçado.

editoriais@grupofolha.com.br

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