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A natureza do ditador

Maduro descumpre acordo para eleição; EUA não tinham opção fora retomar sanções

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Nicolás Maduro, ditador da Venezuela - Leonardo Fernandez Viloria/Reuters

Sanções econômicas constituem ferramenta importante em embates geopolíticos. Em casos de regimes autoritários, como evidenciam Rússia e Irã, elas atrapalham os negócios de autocratas, mas em geral se revelam insuficientes para impedir violações da liberdade política e dos direitos humanos.

É o que também se verifica na Venezuela. Em outubro de 2023, o ditador Nicolás Maduro assinou um acordo com a oposição pelo qual se comprometia a realizar eleições presidenciais competitivas e abertas a monitoramento internacional no segundo semestre deste ano.

Como parte desse pacote, os EUA aceitaram afrouxar as sanções econômicas que impõem a Caracas.
As chances de Maduro de fato promover um pleito limpo nunca foram muito expressivas, mas até dezembro o pacto parecia válido, e a ditadura chegou a libertar alguns presos políticos. No entanto, como se temia, o movimento de abertura não passou de encenação.

No final de janeiro, a Suprema Corte da Venezuela, praticamente um anexo do palácio de Miraflores, decidiu tornar inelegível por 15 anos a principal candidata da oposição, María Corina Machado.

Com isso, Washington retomou as restrições. Determinou que empresas americanas que haviam sido autorizadas a fazer negócios com a estatal venezuelana de mineração liquidassem suas posições.

É válida a atitude do governo Joe Biden de tentar levar a Venezuela, no âmbito de negociações multilaterais, a uma abertura democrática. Pode-se questionar a eficácia do método, porém trata-se da arma disponível. Medidas mais gravosas configurariam um "casus belli".

A Casa Branca não tinha alternativa que não retomar as sanções. Não fazê-lo significaria desmoralizar de vez esse instrumento.

O problema é que Maduro e seu entorno já avançaram demais na autocratização do regime. Se promoverem uma eleição limpa, a derrota é provável. Cerca de 7 milhões de venezuelanos (20% do total) deixaram o país na última década. É mais do que razoável supor que haja insatisfação generalizada com os rumos desastrosos da política e da economia.

Se perderem, poderiam responder pelos crimes cometidos, seja numa Venezuela democrática seja sob o Tribunal Penal Internacional. A tendência, portanto, é que resistam até o fim, a despeito do sofrimento imposto à população.

Infelizmente, é mais fácil criar uma ditadura do que desmontá-la.

editoriais@grupofolha.com.br

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