Em uma preocupante demonstração de força e desfaçatez do crime organizado no Brasil, dois detentos escaparam na quarta-feira (14) de uma penitenciária federal de segurança máxima em Mossoró (RN), a 277 quilômetros de Natal.
Fugas como essa deveriam ser uma contradição em termos. Estabelecimentos dessa natureza foram desenhados para isolar líderes de facções criminosas e aprisionar bandidos de alta periculosidade, mantendo-os sob vigilância constante e grau elevado de restrições.
Ainda não se sabe como conseguiram driblar todo o aparato de segurança; suspeita-se que tenham se valido de materiais de uma obra no pátio do local para abrir um furo no teto da cela —e é de imaginar que não possam tê-lo feito sem o concurso de ao menos um agente.
Para o juiz federal Walter Nunes, corregedor da Penitenciária Federal de Mossoró, esse foi o episódio mais grave da história dos presídios de segurança máxima no país. Com efeito, instalados em nível nacional a partir de 2006, não tinham registrado fuga, rebelião ou entrada de materiais ilícitos —até agora.
Dado que tais estabelecimentos integram o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, o ineditismo e a gravidade da situação envolveram Ricardo Lewandowski em uma crise meros 13 dias após ter assumido o comando da pasta.
Como resposta, o ministro destituiu o diretor da penitenciária e nomeou um interino para o cargo. Além disso, mobilizou um exército para tentar localizar os fugitivos e adotou medidas questionáveis, como a suspensão de banhos de sol e de visitas sociais ou de advogados nos presídios federais.
Qualquer reação, contudo, será vista como insuficiente pela oposição, que se aproveitará dessa circunstância para fustigar a claudicante política de segurança do PT.
Que o episódio custará caro para o governo, isso não se discute. Seria precipitado, entretanto, assumir qualquer ligação entre a fuga e as diretrizes de Lewandowski —ou de seu antecessor, Flávio Dino— para a área; é preciso que as investigações esclareçam quantos degraus na cadeia de comando foram de fato comprometidos.
Enquanto isso, medidas como a revisão dos equipamentos e protocolos de segurança nas cinco unidades penitenciárias federais, já determinadas pelo ministro, devem ser apenas o primeiro passo para detectar outros possíveis pontos vulneráveis do sistema.
Em paralelo, é pertinente o debate acerca do emprego e da gestão de tais estabelecimentos. Alguns analistas acreditam que eles têm baixa eficiência na redução dos crimes —ou pior, que ajudaram a nacionalizar as facções.
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