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O que a Folha pensa PIB

Gasto público e juro são riscos para o PIB global

Principais economias do mundo terão de fazer ajustes para conter dívidas; o mesmo, com agravantes, vale para o Brasil

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Fachada do FED, o banco central dos Estados Unidos - Joshua Roberts/Reuters

Com taxas de juros bem maiores do que as de antes da pandemia e gastos públicos em alta em boa parte dos países, crescem as pressões nos orçamentos e os riscos para a economia mundial.

Segundo o Fundo Monetário Internacional, a dívida pública deve atingir o equivalente a 120% do Produto Interno Bruto nas nações desenvolvidas e a 80% nas emergentes até 2028. Trata-se de um salto de cerca de 20 pontos percentuais ante o nível anterior à crise sanitária, que já era elevado.

Ademais, os principais fatores que influenciam essa trajetória se mostram menos favoráveis hoje. Na década passada, a permanência de juros próximos de zero nos principais centros financeiros manteve os custos de financiamento muito baixos, o que segurou a dívida e permitiu níveis elevados de gastos públicos sem maiores sobressaltos.

Ampliar as despesas do governo sempre tem apelo político, ainda mais quando se consolida a percepção equivocada de que não há risco na indisciplina fiscal.

Hoje o quadro é diferente, contudo, dadas as taxas bem mais altas nos centros globais. Nos Estados Unidos, os juros básicos estão em torno de 5,5% ao ano e não se vislumbra muito espaço imediato para queda, tendo em vista a batalha ainda em andamento do banco central americano para conter pressões inflacionárias.

De outro lado, segue a tendência de redução do ritmo de crescimento da economia. Mesmo com melhores resultados e boas perspectivas nos EUA, a expectativa do FMI para a ampliação do PIB mundial nos próximos cinco anos ronda 3,5% anuais, a menor em décadas

A combinação de juros altos, menor expansão da atividade e déficits orçamentários aceleram a escalada das dívidas públicas e elevam seu custo de rolagem, num círculo vicioso que em algum momento deverá impor um ajuste custoso para a sociedade.

Perceber e construir as condições políticas para estancar essa dinâmica perversa é um desafio, tendo em vista que os impactos ruins podem demorar a ocorrer. Mas o perigo de instabilidade econômica e financeira deveria chamar a atenção das autoridades desde logo.

No Brasil, ainda mais que em muitos outros países, não há dúvida de que o quadro é ruim. O país tem um deficit primário estrutural de 1,6% do PIB e precisa restaurar saldos positivos. Nas projeções do próprio governo petista, isso não ocorrerá sem ajustes nas despesas, mas não há sinais de disposição de levar a cabo qualquer restrição, mesmo que modesta.

Assim, a dívida pública deve continuar crescendo e superar 80% do PIB nos próximos anos —um obstáculo para a queda dos juros.

editoriais@grupofolha.com.br

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