Bolo de macarrão ao forno homenageia mãe de leitora; veja receita para o Dia das Mães

Colunista Marcos Nogueira escolheu uma entre 42 receitas enviadas para a Folha; conheça algumas dessas comidas e suas histórias

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São Paulo

Imagine a seguinte situação: você tem 42 mães. Cada uma delas é a melhor cozinheira do mundo –elas sempre são–, mas você precisa escolher apenas uma receita de uma das 42 mães.

Puxado, né? É nesse enrosco que a Folha me enfiou.

Para celebrar o Dia das Mães, a Redação pediu aos leitores que enviassem receitas que lhes trouxessem recordações maternas, com as respectivas histórias. Eu fui escalado para selecionar uma, apenas uma, e já estou ajoelhado no milho implorando perdão às outras 41.

Panela de ferro sobre uma mesa de madeira contém macarrão com molho de tomate e outros ingredientes
Colunista Marcos Nogueira faz bolo de macarrão da leitora Valéria Toloi, de São Paulo; receita escolhida é fácil de reproduzir - Karime Xavier/Folhapress

A receita escolhida foi o bolo de macarrão, enviada por Valéria Toloi, da Aclimação (região central de São Paulo). Já volto para ela. Antes, quero falar um pouco das histórias fabulosas que chegaram.

Eduardo Batista de Souza, de Diadema, mandou uma receita chamada frango quente. Fumegante? Apimentado? Não, ele explica que o prato tem esse nome porque a mãe escolhia o frango vivo, numa gaiola, e o preparava recém-abatido, antes de esfriar.

Já Lucas Eugênio de Andrade, de Itaúna (MG), passou parte de infância certo de que a mãe havia inventado de uma comida chamada salpicão –ilusão desfeita quando o prato foi servido em sua escola.

Claudia Lindgren, do Rio, trouxe a receita de uma carne moída com legumes que a mãe apelidou de "picadinho de criança".

É um prato que ela fez para mim a vida toda. Quando ela morreu, havia uma porção no freezer dela, com uma etiqueta ‘Picadinho de Criança para Claudia’

Claudia Lindgren

leitora que enviou receita que lembrava a mãe dela

Espera um pouco, que caiu um cisco no meu olho.

A história da Valéria, da receita escolhida, também é comovente. A mãe, Wilma, precisava cozinhar para os irmãos menores quando ainda era uma criança. A avó, separada, saía para dar aulas e sustentar os filhos.

Uma vizinha viu o esforço da menina pela mureta que separava as casas e, para ajudá-la, ensinou essa receita. "Era uma comida de sobras: pega o macarrão cozido, pega o legume que tá na geladeira, a carne do dia anterior", diz Valéria.

O bolo da dona Wilma figura no receituário clássico italiano sob o nome "timballo di pasta". Mistura-se o macarrão que sobrou e outros ingredientes numa assadeira e leva-se tudo ao forno, envolto ou não numa massa de torta.

Valéria diz que, com o tempo, a mãe padronizou a receita. Não usava mais restos, mas massa recém-cozida, muçarela, presunto e ervilha em lata. "Hoje eu prefiro as ervilhas congeladas", conta a leitora.

Para dar liga nesse bolo, uma mistura de leite, farinha e ovo. Valéria mistura a farinha diretamente no leite morno. Eu preferi a segurança de fazer um molho bechamel clássico, em que a farinha é dissolvida na manteiga derretida, adicionando-se aos poucos o leite.

Obtive, aliás, a permissão da Valéria para adequar a receita às minhas necessidades –eu tinha sobras e queria usá-las.

"Esse é o espírito da receita", diz ela. "Dá para trocar o presunto por frango assado ou peito de peru, por exemplo."

Usei como base um linguine com molho de tomate do almoço do dia anterior. No lugar das ervilhas, botei umas favas verdes congeladas que havia comprado para fazer a quiche da coroação do rei Charles 3º, também a pedido da Folha.

A receita pede salsinha. Eu comprei coentro por engano (adoro, mas não combina com esta receita). Catei umas ervas (manjericão, sálvia e cebolinha) no quintal da casa do meu filho.

Meu maior receio era: como desenformar essa coisa sem desmoronar geral? Valéria me tranquilizou, dizendo que na casa dela o bolo de macarrão é servido dentro da assadeira. E assim foi feito aqui também.

Ficou uma delícia. Dona Wilma e Valéria estão de parabéns.

Os filhos das outras 41 mães devem estar se perguntando: mas por que essa aí foi a escolhida?

Bom, é tudo muito subjetivo. Havia receitas mais sofisticadas (e menos também), mas a de Valéria é simpática e, muito importante, cabe nos limites da minha competência culinária.

A história da mãe-criança-cozinheira me pegou. Havia outras histórias tão boas quanto ela, mas um detalhe do relato de Valéria bateu forte: sua mãe está agora com Alzheimer avançado. Não se lembra de nada, que dirá de uma receita de macarrão. Exatamente como a minha própria mãe.

Com o perdão de todas as outras mães do mundo, é sempre na nossa que a gente pensa quando chega o Dia das Mães.

Homem branco e de barba come um fio de macarrão. Ele está sentado atrás de uma mesa de madeira, onde é possível notar alguns ingredientes
Colunista Marcos Nogueira faz bolo de macarrão e aprova a receita da dona Wilma, mãe da leitora Valéria Toloi - Karime Xavier/Folhapress

BOLO DE MACARRÃO

Rendimento: 4 porções

Dificuldade: fácil

Ingredientes

  • 1 copo de leite

  • 1 colher (sopa) de farinha

  • 1 ovo

  • ½ pacote de macarrão longo (espaguete, talharim) já cozido com molho de sua preferência. Na receita, a massa acompanhava molho de tomate

  • 100 g de muçarela ralada

  • 100 g de presunto cozido picado

  • 100 g de ervilhas congeladas

  • Salsinha, sal e pimenta-do-reino a gosto

modo de fazer

  1. Aqueça o forno a 200 °C.

  2. Aqueça o leite e dissolva nele a farinha. Espere esfriar e misture o ovo, batendo com um garfo até ficar homogêneo.

  3. Numa assadeira ou travessa refratária, junte o macarrão, a mistura de leite e farinha e os ingredientes restantes.

  4. Espalhe até obter uma camada uniforme. Aplaine a superfície e salpique queijo por cima.

  5. Asse por 40 minutos ou até obter uma crosta dourada na superfície.

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