'Não consigo mais me encontrar nessa bagunça que virou meu cotidiano', diz leitora

Leitores falaram sobre como são impactados pelo cuidado de outras pessoas

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Nesta semana, a Folha perguntou aos leitores se eles já foram responsáveis pelo cuidado de alguém e como isso impactou suas vidas. Confira a seguir algumas respostas.


Meu esposo é deficiente visual e temos uma filha de 14 anos que está dentro do espectro autista e sigo com todas as demandas que a condição requer. Minha vida é impactada diariamente com o excesso de decisões e tarefas que acumulo. Minha rede de apoio é pequena porque todas as mulheres que conheço estão estafadas. Não consigo mais me encontrar nessa bagunça que virou meu cotidiano. O emaranhado de coisas tem me levado a uma vida de obrigações.
Conceição Ildene da Silva Reis (Quixadá, CE)

Sim, fui responsável pelo meu irmão mais novo. Desde os meus 11 anos cuidei dele e depois de adulta nunca mais quis ter filhos.
Ana Martins (São Paulo, SP)

Sim. Fui responsável pelo cuidado a meus pais. Em momentos distintos. Com o pai, licenciei-me do trabalho para estar com ele. Com a mãe, já aposentado, estive também lado a lado com ela em seu processo de adoecimento. O impacto é direto em minha saúde mental e revisão de valores na vida. Muita angústia.
José Anísio da Silva (Juiz de Fora, MG)

Sim, quando me tornei mãe. Mudou toda minha vida profissional e pessoal, além de sobrecarga e não dar mais conta de realizar tarefas para mim mesma.
Rosana Gandini (Garibaldi, RS)

Jovem mãe ajudando seu filho doente no hospital - StockPhotoPro / adobe stock

Sou madrasta, não tenho filhos. Quando fui morar junto com meu namorado, passei a dividir com ele os cuidados do meu enteado. Muita coisa mudou, não só pela rotina —é complexo se entender como um adulto responsável por uma criança "que não é sua". Isso exigiu que eu entendesse como me sentia sobre isso, e fosse tateando esse território. Quais são os limites? Como eu defino isso sem invadir os espaços do pai e da mãe? Foi uma construção conjunta.
Ana Justi (Curitiba, PR)

Eu cuidei no meu pai com DPOC até sua morte, do meu irmão com depressão e atualmente de minha mãe com degeneração macular e artrose severa nos joelhos. Continuei trabalhando como educadora física enquanto isso, mas certamente esse trabalho não pago impactou minha carreira, minha saúde e minha vida pessoal a tal ponto que optei por não ter filhos. Muito sofrimento, desgaste e falta de reconhecimento social.
Andréa Elaine Sechini (São Caetano do Sul, SP)

Sim. Há quase três anos tenho lidado com as sequelas de um AVC brutal que minha mãe sofreu. Como sou filha única e trabalho para três locais diferentes (sou jornalista e professora universitária), assim que ela teve alta do hospital decidi colocá-la em uma casa de repouso, onde ela vive até hoje. Durante esse período, ainda tive que lidar com a depressão do meu pai, que faleceu 1 ano após o AVC dela, de tristeza, pois não soube lidar, nem aceitar a doença de minha mãe. E ainda tenho marido, filho e cachorro, e ouço de parentes distantes, pessoas aleatórias, que "não cuido da minha mãe".
Alexandra Gonsalez Martin (São Bernardo do Campo, SP)

Desde 2014, quando meu pai faleceu, estou cuidando de minha mãe, hoje com 87 anos. Não é uma tarefa fácil. A pressão do trabalho e a responsabilidade por cuidar dela foram demais. Desde então, tomo antidepressivo e medicação para dormir. É como se minha vida tivesse sido sequestrada de mim. Amo minha mãe e aceito a responsabilidade, mas não tenho com quem dividir esse trabalho. Minhas duas irmãs moram há mais de 30 anos fora do Brasil e meu irmão no interior. Como diz uma amiga: tem que aceitar e viver um dia de cada vez. O trabalho de cuidador familiar deveria ser recompensado.
Marcia dal Prete (São Paulo, SP)

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