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Leitoras debatem direito das mulheres em encontro sobre obra de Buchi Emecheta

Integrantes da Comunidade Todas no WhatsApp participaram de conversa sobre o livro 'Cidadã de Segunda Classe nesta segunda (10)

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São Paulo

A obra "Cidadã de Segunda Classe", da escritora nigeriana Buchi Emecheta, foi tema do terceiro encontro de leitura coletiva realizado pela comunidade Todas no WhatsApp na segunda-feira (10).

No romance com tons autobiográficos, a menina Adah fala do sonho de ser escritora no Reino Unido. Acompanhamos a narradora brigar pelo direito de estudar, casar-se ainda adolescente para poder desfrutar de direitos e mudar-se com os filhos para Londres, onde descobre ser uma "cidadã de segunda classe", ou seja, alguém com maiores dificuldades para acessar direitos do que aqueles da classe dominante. Adah vive uma série de violências físicas e emocionais.

"É uma história universal", define a doutoranda em Literaturas Africanas Maria Paula de Jesus Corrêa, do Centro de Estudos Africanos da USP. "Ser 'cidadã de segunda classe' é igual no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. No nosso país, até 1962, as mulheres casadas só podiam trabalhar fora se o marido permitisse."

Segundo a pesquisadora, o diferencial pode ser notado na forma como a história é contada, sempre iniciando os capítulos do livro rementendo à narração de contos de fada, algo que faz parte da filosofia africana: "Pede-se licença para começar uma história em muitas etnias africanas", diz.

A escritora e socióloga Buchi Emecheta, autora de "Cidadã de Segunda Classe", "No Fundo do Poço" e "As Alegrias da Maternidade". - Divulgação

Maria Paula também alerta para o "perigo da história única", segundo definição da escritora também nigeriana Chimamanda Adichie. Em uma palestra no programa Ted Talks, Adichie explica que, de tanto ouvirmos a mesma história contada pelas mesmas pessoas, corremos o risco de achar que essa é a única história possível sobre determinado assunto. "Minha colega de quarto tinha uma única história sobre a África. Uma única história de catástrofe. Nessa única história não havia possibilidade de os africanos serem iguais a ela, de jeito nenhum. Nenhuma possibilidade de sentimentos mais complexos do que piedade. Nenhuma possibilidade de uma conexão como humanos iguais", diz a escritora no programa.

"A grandiosidade da obra de Emecheta se dá não por ela ser africana, mas por ter um humor, uma perspicácia diante da dureza que é muito própria dela", diz Maria Paula. "Não existe um jeito ‘africano’ de escrever, até porque a África são muitas. Só a Nigéria tem mais de 250 grupos étnicos e a população é maior do que a do Brasil."

A leitura instigou o desejo de ler outras obras da autora já traduzidas no Brasil, como "As Alegrias da Maternidade" e "No Fundo do Poço". Maria Paula também incentivou que as leitoras conheçam obras de outros escritores nigerianos, como a própria Chimamanda Adichie e Chinua Achebe.

O debate virtual foi o terceiro de uma série de leituras coletivas proposta pelas participantes da comunidade.


A comunidade Todas no WhatsApp é uma iniciativa da Folha para conectar leitoras, assinantes ou não, entre si e com a Redação. Para participar dos grupos de conversa preencha este formulário ou escreva para interacao@grupofolha.com.br informando nome completo, idade, cidade e assuntos de interesse.

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