Leitoras discutem 'maternidades possíveis' em encontro com Vera Iaconelli

Integrantes da Comunidade Todas no WhatsApp participaram de conversa com colunista da Folha nesta terça (19)

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São Paulo

Debater o conceito de maternalismo foi o objetivo do encontro entre as leitoras integrantes da comunidade Todas no WhatsApp com a psicanalista e colunista da Folha Vera Iaconelli nesta terça-feira (19).

Em seu livro "Manifesto Antimaternalista", Vera aponta que a cultura do maternalismo diz respeito à ideia de instinto materno e à maternidade compulsória. O livro foi objeto de leitura coletiva, realizada em uma série de debates virtuais, proposta pelas participantes da comunidade.

Para Vera, autora de outras publicações que se debruçam sobre o tema, como "Criar Filhos no Século XXI" e "Mal-Estar na Maternidade", o maternalismo surge como uma boa intenção no amparo de mulheres em situações de vulnerabilidade social. "O problema é a ideia de que o Estado e a filantropia vão ajudar as mulheres na função de mãe, mas eles não se implicam totalmente nisso a ponto de removê-las da posição de única cuidadora possível de uma criança", diz.

Reprodução de tela mostra quinze telas, majoritariamente com rostos de pessoas que seguram um exemplar do livro Manifesto Antimaternalista, de Vera Iaconelli. A primeira tela, à esquerda, no canto alto da imagem, mostra a autora, que é uma mulher branca de cabelos grisalhos curtos e aparece sorrindo. Três telas aparecem com as câmeras fechadas.
As leitoras da Folha integrantes do grupo Todas no WhatsApp participam de conversa com a colunista Vera Iaconelli sobre seu livro "Manifesto Antimaternalista" - Reprodução

Essa mentalidade é construída desde o século 18 a partir da ideia do instinto materno, conforme aponta a autora em seu livro. "Há uma catequese para arregimentar as mulheres que faz supor que só uma mãe sabe cuidar de uma criança e só uma mãe deveria –mas isso só acontece porque elas foram assim treinadas", diz Vera.

O "Manifesto Antimaternalista" não é contrário à maternidade, mas critica a estrutura que enfatiza o papel exclusivo da mulher na criação de uma criança, explica a autora. O debate do livro não se concentrou apenas na ausência dos homens na criação de seus filhos e na implicação de uma responsabilidade inferior a eles, mas também na estrutura social que perpetua essas condições.

"O livro é muito importante no sentido de deixar a maternidade mais leve para quem é mãe e autorizar quem não quer ser a não sentir culpa", diz a jornalista Janaína Castro, 43.

Entre outras implicações do maternalismo, a maternidade negada a mulheres pobres ou dependentes químicas que perdem a guarda de seus filhos também foi alvo de debate.

Nesse sentido, Ana Trigo, 53, contou ao grupo que seu doutorado tratou do desamparo ao qual estão submetidas mulheres dependentes químicas na cracolândia. "O atendimento oferecido a essas mulheres hoje tem poucos locais de acolhida. Elas têm muita dificuldade de buscar ajuda porque são extremamente julgadas e estigmatizadas, afinal, a mulher que renega essa ‘santidade' da maternidade é considerada a pior das criaturas", diz Ana, que é mestre e doutora em ciência da religião pela PUC-SP.

Vera aponta que pequenas políticas voltadas a dar suporte às mães na criação dos filhos, como as creches, não retiram a mulher do local de cuidadora principal e que é preciso buscar transmitir os conhecimentos e experiência de cuidado para que outras pessoas também possam exercer a função.

"A maternidade para mim foi uma descoberta suprema de como eu precisava do feminismo e como não há saída sem ele, se você for mãe", diz a produtora Rachel Ripani, 48.


A comunidade Todas no WhatsApp é uma iniciativa da Folha para conectar leitoras, assinantes ou não, entre si e com a Redação. Para participar dos grupos de conversa preencha este formulário ou escreva para interacao@grupofolha.com.br informando nome completo, idade, cidade e assuntos de interesse.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis.

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