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Eleições 2018

O que aconteceu com os marqueteiros? Vão muito bem, e se dão mal

Horário eleitoral na TV mostra o de sempre, mas esta não é uma eleição típica

São Paulo

Com quase metade do tempo de propaganda na TV, Geraldo Alckmin (PSDB) não foi para a frente. Com 9 segundos, Jair Bolsonaro (PSL) lidera as pesquisas. Contando com boa fatia do horário, Henrique Meirelles (MDB) mal existe.

O que aconteceu com os marqueteiros? Assistindo ao horário eleitoral, percebo que eles continuam muito competentes —e que talvez o problema esteja precisamente aí.

A propaganda de Alckmin e Meirelles seria excelente numa eleição normal —só que esta não é uma eleição normal. Tudo se tornou extremamente ideologizado, e não importa muito o que os candidatos dizem, e sim o que significam.

Aliás, o próprio tempo de TV diminuiu muito. Fora os anúncios isolados no meio da programação comercial, sobraram apenas dois blocos de 12 minutos e meio cada um.

O famoso “latifúndio” conquistado por Alckmin ao preço de alianças fisiológicas reduziu-se a 5 minutos e meio.

É suficiente para que seus marqueteiros façam o trabalho “normal”. Há jingles em diversos estilos, uma apresentadora “sincera” escolhida a dedo, momentos sentimentais e cenas biográficas do candidato como administrador, médico, noivo e democrata.

E, principalmente, cuida-se de apresentar as “propostas” (promessas) do candidato. Surge o programa Emprego na Veia, indicando que um médico anestesista pode também solucionar a crise econômica. E o programa Linha Dura, propondo mais rigor legislativo contra o crime.

“Não sei se você reparou”, disse a apresentadora negra um dia desses, “mas, passadas duas semanas de campanha eleitoral, somente um candidato apresentou propostas reais para mudar o Brasil”.

Só que ninguém está pensando em “propostas”.

Não se resume a isso o programa do PSDB. Do lado positivo, uma pequena obra-prima de marketing político afirma que “não é na bala que se resolve”. Vemos um projétil perfurando livros e a ponto de matar uma criança negra.

Do lado negativo, ​Alckmin procurou ser crítico, ao mesmo tempo, de Lula e de Temer; o presidente teve razão em apontar que o PSDB está no seu governo.

Entre uma coisa e outra, aposta-se no “equilíbrio” e no “bom senso” do candidato.

Num movimento talvez inevitável, a propaganda de Henrique Meirelles repetiu os mesmos termos para defender seu candidato.

Os marqueteiros do MDB foram excelentes ao dar forma “popular” aos slogans. “Chama o Meirelles”, diz a propaganda, e não está errada. Tanto Lula quanto Temer recorreram ao banqueiro. “Não farei promessas”, gruguleja o emedebista. “Prefiro perder o seu voto e ganhar o seu respeito.” Talvez ele esteja conseguindo.

Com pouco tempo, Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) erraram a mão, no meu entender. Os marqueteiros de Marina apostaram numa pegada oposicionista: ouvimos sons de tapas na mesa, e gritos de “Não dá mais!”. Um programa apresentava a candidata sob uma iluminação tétrica.

Depois, a ex-senadora apareceu de branco, mas com uma mensagem muito vazia. “Vamos governar com os melhores, não só dos partidos, os melhores da Ciência, da Academia, do Empresariado, da sociedade e dos Movimentos Sociais”. Reproduzo as estranhas maiúsculas que aparecem na legenda, repetindo a voz cada vez mais insegura e corvídea da candidata.

Apesar de sorridente e informal, Ciro se complica na brutalidade quase bolsonariana de seu slogan, igualmente vazio. “Você quer! Você pode! Mude! Ciro.” É um misto de jingle e de slogan, percussivo e autoritário.

O problema dos marqueteiros de Haddad (PT) era mais simples. Tratava-se de fundir Lula ao seu representante, com mensagens que não precisavam se voltar para o “eleitor em geral”, mas para os mais pobres e para a militância do partido.

Aos primeiros, imagens do Nordeste e da felicidade perdida. Aos segundos, o slogan “Lula livre” e as sutis modulações de um discurso que começou prometendo “o Brasil de Lula de volta”. Depois de esclarecida sua indisposição para indultar o condenado, Haddad fala em “libertar o povo brasileiro” (e não o próprio Lula) “de toda essa injustiça.”

Deu certo para Haddad, enquanto o “mito” Bolsonaro continua a beneficiar-se de outro programa: aquele que passa, sem produtores nem marqueteiros, na cabeça delirante de seus entusiastas.

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