Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Vice com contrapontos a Bolsonaro, Mourão tem reprovação menor

Resultados do Datafolha ajudam a explicar descontentamento da ala ideológica com o vice

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Brasília

Os constantes contrapontos feitos pelo vice Hamilton Mourão (PRTB) ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) atenuaram sua imagem perante o eleitorado. A reprovação do vice é menor que a do titular, em parte porque ele é também mais desconhecido.

Após quase cem dias de governo, pesquisa Datafolha mostra que 18% do eleitorado considera o desempenho de Mourão ruim ou péssimo, ante 30% da taxa de Bolsonaro.

Quando se separa o eleitorado por faixa de renda e escolaridade, a diferença se mantém. De modo geral, a avaliação do vice é melhor que a de Bolsonaro, e isso se deve também ao fato de o seu trabalho ser acompanhado menos de perto que o do presidente.

A maioria dos entrevistados (59%) não soube dizer quem era o vice-presidente da República, 37% acertaram o nome de Mourão e 4% erraram.

É por isso que, quando questionados, apenas 4% dos entrevistados não souberam avaliar o desempenho de Bolsonaro —e 18% se abstiveram em relação ao vice.

Os índices de ótimo/bom (32%) e regular (32%) de Mourão são similares aos de Bolsonaro (32% e 33%).

A pesquisa foi realizada presencialmente nos dias 2 e 3 de abril, com 2.086 pessoas de 16 anos ou mais, em 130 municípios. A margem de erro máxima é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Entre a parcela mais rica da sociedade (mais de dez salários mínimos por família), Mourão tem 23% de reprovação, ante 37% de Bolsonaro.

Entre os mais pobres, de renda familiar de até dois salários mínimos, 34% avaliam que o desempenho do presidente é ruim ou péssimo e 20% dizem o mesmo do vice.

A diferença de 14 pontos se observa também na faixa dos que ganham de cinco a dez salários mínimos e oscila para 11 pontos entre as famílias de renda mensal média de dois a cinco salários mínimos.

Da mesma forma, aqueles com nível superior completo acham Bolsonaro pior que Mourão —o presidente tem 35% de reprovação no segmento, e o vice, 20%.

Dos eleitores que cursaram até o ensino fundamental, 31% consideram a atuação de Bolsonaro reprovável e 16% dizem o mesmo de Mourão.

No grupo de entrevistados com ensino médio completo, 26% reprovam Bolsonaro e 18%, Mourão.

Os resultados do levantamento ajudam a explicar o descontentamento da ala ideológica do governo com Mourão. Vocalizados especialmente pelo escritor Olavo de Carvalho, os ataques ao vice aumentam sempre que o general se mostra mais conciliador que Bolsonaro.

Neste sábado (6), a agenda do vice resumia a disputa.

Em Boston (EUA), para a Brazil Conference, evento organizado por estudantes da universidade Harvard e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Mourão conversou com Mangabeira Unger, um dos principais conselheiros de Ciro Gomes (PDT), que, por sua vez, foi adversário ferrenho de Bolsonaro na campanha de 2018.

Mourão também se reuniu com representantes da comunidade brasileira em Boston. A iniciativa foi interpretada como uma resposta a Bolsonaro, que, três semanas antes, criticara os imigrantes.

O presidente declarou à Fox News que “a grande maioria dos imigrantes em potencial não tem boas intenções nem quer fazer o bem ao povo americano”. Depois, ele se desculpou.

Depois de Bolsonaro dizer, recém-eleito, que transferiria a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, Mourão recebeu o embaixador da Palestina e negou que a mudança estivesse confirmada.

Ao contrário do presidente, que concordou com o chanceler Ernesto Araújo, segundo quem o nazismo era de esquerda, Mourão declarou que “de esquerda é o comunismo, não resta nenhuma dúvida”.

Além de especulações sobre as intenções de Mourão, tais contrapontos despertaram uma “simpatia desconfiada” de setores da esquerda —desconfiada porque o general tinha posições mais extremadas. Em 2017, por exemplo, defendeu intervenção militar para resolver a crise política.

Já no cargo, o vice mudou de direção. Defendeu que o aborto seja uma escolha da mulher e que a ida, afinal não realizada, do ex-presidente Lula (PT) ao velório do irmão era uma “questão humanitária”.

O Datafolha mediu essa nuance. Ainda que não seja amplamente positiva, a popularidade de Mourão entre eleitores que declaram preferir o PT e o PSOL é um pouco maior que a de Bolsonaro.

Eles estão mais descontentes com o vice que a média, mas a reprovação não chega perto da do presidente.

Entre os simpatizantes petistas, 34% consideram Mourão ruim ou péssimo —e 58% reprovam Bolsonaro. Entre os entrevistados que preferem o PSOL, 44% consideram Mourão ruim ou péssimo —e 84% reprovam Bolsonaro.

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