Presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado Cauê Macris (PSDB) assumiu o governo do estado neste domingo (15) e ficará por cinco dias no posto. Antes de sentar na cadeira, ele já recebia pedidos de colegas do Legislativo para que, com a caneta de João Doria (PSDB), sancione projetos de lei aprovados no plenário.
"Presidente, tomando conhecimento que o sr. será agora o governador, irá substituir o governador, eu peço, conforme aqui a torcida, para que avance na aprovação do meu projeto, e de todas também, obrigada", disse em tom de brincadeira a deputada Delegada Graciela (PL) durante a sessão de terça (10), apoiada por outras deputadas.
"O dela não sei se vou conseguir sancionar, não sei se estará pronto", diz Cauê à Folha.
O projeto que prevê a reeducação e conscientização de agressores de mulheres havia sido aprovado minutos antes do pedido da deputada, e precisa ser enviado ao Palácio dos Bandeirantes e analisado pela equipe jurídica do governador antes de receber sanção ou veto.
Transformar os projetos aprovados em lei será apenas uma das tarefas de Cauê até quinta-feira (19), período em que assume o cargo de governador de São Paulo. Será a primeira vez que o deputado, aos 36 anos, ocupará o governo.
O presidente da Assembleia é o terceiro na linha de sucessão. Nesse período, estarão fora do país tanto o governador João Doria, que viaja ao Japão de domingo a sexta (20), quanto o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM), que está em Singapura desde quarta (11) e retorna a São Paulo na madrugada de sexta.
Cauê aproveitará a oportunidade para acenar à sua base política, em Americana (SP). O parlamentar viaja à cidade nesta segunda-feira (16) para, como governador, assinar convênio de obras de infraestrutura e se reunir com empresários.
Ele tomou posse neste domingo em uma cerimônia simples na Assembleia, que durou cerca de 30 minutos. A transmissão do cargo de governador para seu vice é automática, mas para que o presidente do Legislativo assuma o posto é necessário esse protocolo.
No próprio domingo, ele viajou a Bertioga e a Itanhaém, no litoral paulista, para assinar convênios na área de saúde e dar o pontapé em uma obra da Sabesp. Cauê diz que vai seguir a agenda já estabelecida pelo governo para esses cinco dias, avaliando de quais eventos participará.
Em relação a sancionar os projetos dos colegas, Cauê diz que há cerca de 12 propostas prontas para serem avaliadas pelo governador, a maioria de temas simples. "Tenho que ver os relatórios da equipe jurídica, mas, se eles indicarem que tem que ser sancionado, eu vou sancionar."
O tucano vai trabalhar do gabinete do vice-governador no Palácio dos Bandeirantes. "Ele me cedeu e eu preferi ficar lá", diz o tucano. Por causa do vice, aliás, Cauê não será o mais jovem governador de São Paulo. Garcia, quando era presidente da Assembleia, aos 32 anos, em 2006, assumiu o governo provisoriamente e ficou com o recorde.
Nem por isso o deputado está menos feliz. "A oportunidade de governar o seu estado é uma satisfação para qualquer um", diz.
"Agradeço pela confiança de deixar o governo cinco dias na minha mão. Afinal, nesse momento, eu serei governador. Todas as decisões, assinaturas, tudo será tomado por mim. Não deixa de ser uma confiança plena que tanto o João como o Rodrigo tiveram. O melhor que eu puder fazer, eu vou fazer."
Para o tucano, os cinco dias como governador coroam uma trajetória política precoce e vitoriosa. "Eu tive uma trajetória muito rápida. Eu me considero uma nova geração do partido, que ocupou cargos importantes, fui líder da bancada, relator do Orçamento", afirma.
Apadrinhado pelo pai, o deputado federal em terceiro mandato, Vanderlei Macris (PSDB), e hábil nas articulações políticas, Cauê se filiou ao PSDB aos 16 anos e foi eleito vereador em Americana aos 21, em 2004. Reeleito vereador, tornou-se presidente da Câmara Municipal em 2009.
Assumiu o mandato na Assembleia em 2011 e foi eleito presidente da Casa em 2017, sendo reeleito neste ano sob a bênção de Doria, com quem os tucanos mais jovens costumam se aliar no partido.
No comando da Assembleia, Cauê, que é calmo e cauteloso, tem o desafio de conter os ânimos de uma legislatura especialmente ideológica, que vive embate constante entre a maior bancada —a do PSL, com 15 deputados— e o bloco da esquerda, de igual número —formado por PT, PSOL e PC do B.
O tucano também é alvo de suspeitas ligadas às suas contas eleitorais. Uma delas diz respeito à compensação de cheques no valor de R$ 266 mil da campanha de Cauê por um posto de combustíveis do qual o tucano é sócio, em Limeira (SP). Seu pai, o deputado federal Vanderlei Macris, compensou outros R$ 615 mil. A transação foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Apesar dos repasses, a empresa de Cauê não aparece na relação oficial de fornecedores das duas campanhas. Eles afirmam que o posto servia apenas como intermediário de pagamento de cabos eleitorais que não têm conta e moram no interior.
Outra suspeita decorre de depoimento divulgado em novembro do ano passado, no qual Renato Vale, ex-presidente da CCR, disse ao Ministério Público do Estado de São Paulo que a concessionária fez pagamento de R$ 100 mil por meio de caixa dois a Cauê, em 2012.
O deputado diz que agiu dentro da lei, que suas doações foram legais e que suas prestações de contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.
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