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Ataque de Bolsonaro isola movimento de acomodação no Supremo

Presidente havia dado sinais de diálogo, mas crítica pessoal a Moraes uniu ministros

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São Paulo

O ataque ácido de Jair Bolsonaro a Alexandre de Moraes sustou uma articulação que se desenhava para tentar acomodar os ânimos entre o Palácio do Planalto o Supremo Tribunal Federal.

Integrantes da corte e ministros da ala militar do governo vinham trabalhando, desde o começo da semana, para baixar a altíssima temperatura da crise que desembarcou no colo de Celso de Mello.

Ministros do Supremo participam da primeira sessão virtual da história, devido à Covid-19
Ministros do Supremo participam da primeira sessão virtual da história, devido à Covid-19 - STF no Youtube - 14.abr.2020

O decano do Supremo é o condutor do embate entre Bolsonaro e Sergio Moro, ex-ministro que acusou o presidente de interferir politicamente na Polícia Federal.

Se o debate parece infrutífero no mérito, dado que o próprio presidente admitiu a intenção, a definição se há ou não crimes é central para o futuro da crise.

A transferência da comarca do abacaxi do Congresso para o Supremo deu tempo para as tropas se rearranjarem.

Do lado daqueles que querem ver Bolsonaro impedido, houve ganho de fôlego para o adensamento do caso Moro enquanto a crise da pandemia se agrava com a ação errática do governo.

Já aqueles contrários ao impeachment buscam aproveitar negócios de ocasião ofertados pelo recém-reaberto balcão do Planalto, ao menos enquanto houver governo.

Na segunda-feira, Bolsonaro foi advertido duramente pela ala militar que sua intenção de colocar Jorge Oliveira e Alexandre Ramagem na Justiça e na PF, respectivamente, criaria um impasse institucional.

Os fardados falaram em termos francos: o governo poderia ficar inviabilizado.

O ideal seria um ministro com interlocução prévia com o Supremo, como o advogado-geral André Mendonça, e um diretor da PF chancelado pela corporação.

Ainda assim, o presidente cumpriu metade da promessa de indicar amigos de sua família. Pior: no cargo mais sensível, a direção da polícia.

Como brincou um general, ficou 2 a 1, dado que na AGU entrou um nome com ótimo trânsito no STF, José Levi, trazido a Brasília por Gilmar Mendes e que já foi sub de Alexandre de Moraes na pasta da Justiça.

A decisão provisória de Moraes de barrar Ramagem na PF embaralhou a dinâmica da equação na quarta (29).

Bolsonaro tem especial desapreço pelo ministro do STF. Já disse a interlocutores que ele age para derrubá-lo em conluio com políticos, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o governador João Doria (PSDB-SP).

Ainda assim, a reação inicial do governo, baseada justamente na opinião do estreante Levi, foi de não recorrer.

Tudo parecia sob controle e, como disseram ministros do Supremo, o diálogo seria mantido. Até que, no fim do dia, o presidente desautorizou Levi e disse que haveria recurso à liminar.

Pela manhã, após as usuais consultas noturnas com os filhos, Bolsonaro subiu o tom e fez acusações inauditas por parte de um presidente contra um ministro do STF.

O resultado foi o fechamento em copas da corte. O ato mais simbólico veio de Gilmar, um antagonista de Moro que já alertara contra o uso do STF como palanque político pelo ex-ministro, sem nomeá-lo.

Ele indeferiu o pedido do filho presidencial Eduardo para enterrar a CPI das Fake News, fonte de dor de cabeça para o clã da Barra da Tijuca.

À tarde, houve várias declarações de apoio a Moraes e uma decisão contra o presidente dada pelo plenário, que vetou a restrição à Lei de Acesso à Informação prevista em medida provisória.

Bolsonaro passou a quinta (30) cercado de seu núcleo militar, todos em visita à troca do comando do Exército no Sul.

A avaliação corrente entre os fardados é que Moraes teria legislado, dando razão a Bolsonaro no conteúdo, mas não na forma da reação.

Alguns integrantes da ala fardada são mais carbonários, como o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).

Seja como for, Bolsonaro já provou mais de uma vez que pode ser restringido apenas parcialmente, dado seu DNA propenso ao conflito. Só que agora o campo de batalha não é nas redes sociais ou na porta do Alvorada.

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