Descrição de chapéu Eleições 2022

Doria quer pressa em prévia nacional, mas, com indefinição de Alckmin, empurra a estadual

Vice paulista, Rodrigo Garcia evita falar em candidatura, e presidente do PSDB-SP diz ser preciso dialogar com partes envolvidas

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São Paulo

"Parafraseando nosso governador Geraldo Alckmin: ano par é ano de discutir eleição em São Paulo, ano ímpar a gente trabalha. [...] A minha posição já é diferente em relação a nível nacional. Eu acredito que é fundamental, no momento que nós estamos vivendo, de polarização, que o PSDB possa escolher seu candidato ainda neste ano de 2021", afirmou o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, na última sexta-feira (14), logo após se filiar ao PSDB. Ele estava ao lado do governador tucano João Doria.

Na mesma entrevista à imprensa, Doria defendeu a realização de prévias de maneira geral e comentou a eleição interna do PSDB, marcada a princípio para outubro, que deve escolher o presidenciável da sigla.

O governador e seu vice, no entanto, evitaram abraçar, ao menos de pronto e com o mesmo entusiasmo, a possibilidade de prévias estaduais em São Paulo.

Garcia, que é o escolhido de Doria para sua sucessão no Palácio dos Bandeirantes, desconversou sobre sua candidatura. "No momento certo vamos olhar o futuro, não é nesse momento de filiação. [...] Vou me submeter às regras de candidatura que o partido definir para 2022, que ainda não estão colocadas."

O governador João Doria e Rodrigo Garcia em evento de filiação do vice-governador ao PSDB, na sexta (14) - Zanone Fraissat

As definições do PSDB no estado dependem do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que busca mais um mandato —o quinto— à frente do Governo de São Paulo. Como já mostrou a Folha, parte dos aliados de Alckmin defendem prévias entre ele e Garcia.

Como a filiação do vice foi uma estratégia de Doria para interditar a candidatura de Alckmin e, pensando na sua candidatura à Presidência, preparar com Garcia um palanque favorável no estado, a questão das prévias estaduais pairou no ar.

Nem Garcia nem Doria admitiram o embate com Alckmin, que, por sua vez, considera deixar o PSDB, como revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha. Ainda que o ex-governador permaneça no partido, há entre seus aliados quem avalie que não vale a pena comprar a briga por prévias estaduais.

Curiosamente, tanto Doria quanto Garcia se referiram a Alckmin enquanto empurravam a candidatura estadual para 2022 e louvavam as prévias nacionais o quanto antes.

"​Eu sou um defensor das prévias. E aprendi a defender as prévias com Geraldo Alckmin. Foi Geraldo Alckmin que me ensinou, então governador do Estado de São Paulo, o valor das prévias, a importância das prévias, e a necessidade das prévias", disse Doria.

"Como filho das prévias, eu não posso me opor às prévias, ao contrário, eu compreendo a importância delas para o fortalecimento do partido e também no fortalecimento da democracia", completou.

O ex-deputado estadual e ex-presidente do PSDB de São Paulo Pedro Tobias, um dos defensores de Alckmin no partido, lembra esse apoio do então governador para que Doria disputasse prévias em 2016 e em 2018 como argumento para cobrar as prévias agora.

​"Geraldo tem amor pelo PSDB, é fundador. Vamos lutar pelas prévias dentro do PSDB e vamos ganhar", afirma Tobias à Folha, completando que "só porque Garcia assinou a ficha" não tem preferência para ser candidato.

Questionado pela reportagem, o presidente do PSDB em São Paulo, Marco Vinholi, que é secretário do governo Doria, evitou se comprometer com a realização de prévias e afirmou que ainda é preciso conversar com todas as partes interessadas sobre possíveis cenários eleitorais.

"Encontraremos o melhor caminho, respeitando a todos e também a democracia interna do PSDB. Existe uma complexidade no cenário estadual que demanda muito diálogo entre todos", disse à Folha.

Vinholi também é a favor de uma definição nacional em outubro, mas, no estado, pondera que o quadro se complica com a possibilidade de reeleições —caso de José Serra no Senado e de Garcia para o governo, considerando que ele assuma o Palácio dos Bandeirantes em abril com a saída de Doria para ser candidato a presidente.

"Além disso, há uma ampla gama de quadros com estatura para cargos majoritários. O fato de o partido ser forte, com muitos quadros de qualidade para apresentarmos para a sociedade, não é um problema, pelo contrário, é algo muito positivo", completa.

Aliados de Doria já defenderam, nos bastidores, que a preferência é de quem irá disputar a reeleição, como seria o caso de Garcia, e que não caberiam prévias nessa situação. Outros tucanos não têm esse entendimento.

Como mostrou a Folha, em seu discurso no evento, Garcia, que foi secretário de Alckmin por dois mandatos, agradeceu ao ex-governador. "Ter gratidão é um exercício bom de simplicidade e humildade. Muito obrigado, Geraldo, pelas oportunidades que você me deu."

Doria, em sua fala, afirmou que é preciso "respeitar a experiência, mas inovar com os mais jovens", em referência direta a Garcia e velada a Alckmin.

O governador prega um modelo de prévias com o mesmo peso de votos a todos os filiados —o que lhe favorece, dada a concentração de tucanos em São Paulo. Ele agradeceu os militantes do partido e deu esse recado. "Todo voto é um voto. [...] Todos são iguais perante a democracia."

Enquanto Doria e seus aliados preferem que as prévias nacionais sejam em outubro, outros possíveis presidenciáveis tucanos, como o senador Tasso Jereissati (CE), querem adiá-las para o ano que vem.

Nas palavras de Garcia, as prévias ainda neste ano darão "o tempo necessário para que o candidato do PSDB possa expor suas ideias para o Brasil".

O governador de São Paulo quer ter tempo para construir uma campanha e resgatar sua imagem. Ele marcou 3% na última pesquisa Datafolha, em que Lula (PT) aparece com 41% e o presidente Jair Bolsonaro com 23% das intenções de voto.

Mencionando a pesquisa, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou haver uma possível convergência do partido para que as prévias ocorram ainda este ano, já que outros candidatos estão em franca campanha. Uma comissão tucana irá definir as regras e a data da eleição interna.

Alckmin, por sua vez, mantém conversas com uma série de partidos —não só sobre migração, mas sobre alianças em 2022. As siglas mais citadas por aliados são PSD e DEM, cujo presidente, ACM Neto, rompeu com Doria após a filiação de Garcia. Também já houve aproximação do ex-governador com PSB, PV, Podemos e PSL.

Procurado pela reportagem, Alckmin não se manifestou.

Tucanos apostam, contudo, que a morte do prefeito Bruno Covas (PSDB), no domingo (16), vai esfriar, ao menos por enquanto, os movimentos de Alckmin. Covas foi fiador da filiação de Garcia e deixou claro o apoio ao vice em carta escrita na sexta, dia em que foi sedado com quadro clínico irreversível.

Alckmin está diante de um dilema, segundo aliados. Como fundador do PSDB, ele prefere se manter na sigla, mas isso significa abdicar de ser candidato ao governo ou enfrentar a máquina do Bandeirantes num embate de prévias com um tucano novato, algo que o diminuiria politicamente.

No entorno do governador Doria, a aposta é a de que ele não deixará o PSDB e a ideia é buscar diálogo para acertar a chapa de 2022. A proposta de que Alckmin dispute o Senado, por exemplo, tem dois problemas: o ex-governador não simpatiza com esse arranjo e Serra pode buscar a reeleição.

Ao mesmo tempo, diversos partidos afirmam que o ex-governador seria bem-vindo. Apoiadores de Márcio França (PSB), por exemplo, incentivam a repetição da chapa com Alckmin, vitoriosa no estado em 2014, caso ele realmente deixe o PSDB. ​

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