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Eduardo Leite divulga apoio a Doria e diz que só seria candidato com aval do paulista

Após encontro em que Doria insistiu em manter sua campanha, gaúcho recua e diz que não dividirá PSDB

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São Paulo

O ex-governador Eduardo Leite (PSDB) divulgou uma carta, nesta sexta-feira (22), em que declara apoio ao presidenciável do seu partido, João Doria, e diz que não irá dividir o PSDB.

Apesar de ter perdido as prévias para Doria em novembro, Leite vinha atuando em uma campanha paralela para ser candidato à Presidência da República.

Leite afirmou à Folha que não será candidato ao Planalto se o próprio Doria não estiver de acordo com isso. Em encontro na última terça (19), Doria afirmou a Leite que insistiria em sua candidatura, o que provocou o recuo do gaúcho.

"Só serei candidato se houver entendimento político no partido e com ele [Doria]. Neste momento, estou recolhido", disse o ex-governador do Rio Grande do Sul. "Se Doria não abre mão, ele tem meu apoio como candidato do partido", completou.

Aliados do gaúcho afirmam não haver desistência e que Leite segue à disposição caso seja escolhido num consenso da terceira via.

Eduardo Leite no Palácio Piratini
O ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) - Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

"Contem comigo para sermos um só PSDB", declara Leite no documento. Ele defende que o PSDB tenha um candidato à Presidência da República e deixa claro seu apoio a Doria.

Membros do partido insistem, no entanto, no entendimento de que a candidatura de Doria só irá prosperar se for a escolhida pelo conjunto PSDB/Cidadania (numa federação), MDB e União Brasil.

Atualmente, os demais partidos da chamada terceira via não estão dispostos a lançar Doria. A candidatura única será anunciada em 18 de maio —Simone Tebet (MDB) e Luciano Bivar (União) também são opções.

Como mostrou a Folha, Doria tenta adiar a escolha do candidato para 31 de maio, algo que outros partidos descartam. Segundo pessoas a par das negociações, a intenção de Doria com o adiamento é tentar aproveitar um eventual efeito positivo que poderia haver sobre sua campanha com o início da propaganda partidária do PSDB em rádio e TV, em 26 de abril. Publicamente, no entanto, o ex-governador nega que tenha solicitado mudança da data.

"O PSDB deve ter candidato a presidente e liderar o centro democrático. Hoje este nome é João Doria, por decisão dele e das prévias –das quais nunca se buscou tirar legitimidade. Qualquer caminho diferente dependeria de entendimento com o próprio candidato escolhido. Assim, me coloco ao lado do meu partido e desta candidatura, na expectativa de que a união do PSDB contribua com a aguardada unificação dos atores políticos do centro daqui até a eleição de outubro", escreveu Leite.

Em resposta, Doria declarou em nota que "o gesto de reconhecimento [...] é prova de coerência e bom senso".

"Finalmente, foram superadas todas as divergências internas, corroborando com o resultado e a legitimidade das prévias que mobilizaram mais de 44 mil eleitores tucanos. É um gesto honrado, democrático e elogiável", continua o paulista.

"Juntos vamos construir uma candidatura forte do centro democrático, ao lado do MDB, União Brasil e Cidadania [...]. É hora de união contra a polarização que nos afoga", completa Doria.

"É uma carta madura de um homem público compromissado com o seu estado, o país e o seu partido. Por ações como essa e pelo seu governo no Rio Grande do Sul, ele tem se consolidado como a mais jovem liderança nacional. Tem e terá um papel fundamental na democracia brasileira e no nosso partido", afirmou o presidente do PSDB, Bruno Araújo, em nota.

Leite afirmou à Folha que "nunca quis ser um obstáculo para Doria" e que o ex-governador paulista tem o caminho livre para se viabilizar politicamente.

Essa é justamente a dificuldade de Doria, que enfrenta resistência entre tucanos e entre partidos aliados pela baixa pontuação nas pesquisas de intenção de votos enquanto apresenta alta rejeição. Por isso, o entorno de Leite não o vê fora do jogo —caso a candidatura de Doria realmente não prospere.

Leite afirma no documento que seguirá rodando o país e também diz que ajudará seu estado a não andar para trás. No encontro com Doria, segundo relatos de tucanos, Leite chegou a admitir que pode ser candidato ao Governo do Rio Grande do Sul.

A avaliação do gaúcho é a de que ele e Doria necessitam um do outro. Doria precisa do partido unido e do apoio de Leite para demonstrar musculatura e eventualmente ser escolhido o candidato da terceira via.

Enquanto Leite não poderia ser candidato se Doria questionasse sua candidatura na Justiça, como seus aliados já admitiam fazer. Por isso, em nome da defesa de que o PSDB tenha um presidenciável, Leite resolveu endossar Doria, o que foi visto como um ato de maturidade por dirigentes do partido.

O ex-governador gaúcho afirmou à reportagem defender a candidatura tucana, mas avaliar ser "interessante que haja convergência do grupo da terceira via".

Com a carta, o gaúcho também pretende se blindar e dar uma resposta às articulações para que o PSDB não tenha um candidato próprio ao Planalto.

Nesta semana, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), aliado de Leite, declarou ao UOL que, para Araújo e para o candidato ao Governo de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), seria mais vantajoso que o partido não tivesse um presidenciável.

Isso porque a rejeição de Doria poderia contaminar a campanha de Rodrigo.

Se o resultado final for o de que o PSDB não terá um candidato, Leite não quer ser responsabilizado —no sentido de que a divisão provocada por ele foi o que minou o poder eleitoral da sigla.

Pelo contrário, a ideia é que, agora que o gaúcho apoia o paulista, a eventual derrubada da candidatura de Doria caiba àqueles que querem eleger Rodrigo como objetivo principal.

Por isso, adversários de Doria afirmam que o ex-governador de São Paulo não deve celebrar o anúncio de Leite e nem entendê-lo como uma desistência, além de apostarem que a resistência a ele na sigla não será dissipada.

"Tomei a iniciativa e fui ao ex-governador João Doria para dizer que não faz sentido querer que partidos superem suas diferenças se, dentro do PSDB, não superarmos as nossas. Disse também que estava disponível para liderar um projeto nacional, se este for o desejo dos partidos do centro democrático, mas se, sobretudo, este for o desejo do PSDB", afirmou Leite na carta.

"No PSDB, eu e Doria precisamos um do outro para estarmos mais fortes e unidos para enfrentar a campanha mais importante da história recente do país, independentemente do lugar que ele e eu estejamos ocupando no período eleitoral", continua.

"Ouvi do ex-governador João Doria que ele não abre mão de ser o candidato do PSDB à Presidência da República. Ele tem este direito e esta legitimidade, vencedor das prévias que foi. E ele ouviu de mim que não serei eu, que tanto prezo o diálogo democrático, que criarei entrave de qualquer natureza para tirar dele a vontade e o direito que tem. Repito: eu não renunciei para dividir o meu partido, mas para somar onde mais posso ajudar o meu estado e o meu país", completa Leite.

O ex-governador diz ainda no texto que seguirá com sua pré-campanha, inclusive acenando para a reeleição. Leite afirmou à reportagem que a preferência é do atual governador, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), mas que "volta sua atenção para o Rio Grande do Sul".

"Continuarei andando e conversando pelo país para mostrar o que fizemos no Rio Grande
do Sul. [...] Meu papel é ajudar a construir que o meu estado não ande para trás e que o meu país ande para frente", escreveu na carta.

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