Descrição de chapéu Folhajus ataque à democracia

Ibaneis driblou impeachment e expulsão para voltar ao Governo do DF, mas ainda teme STF

Em entrevista coletiva para marcar seu retorno, emedebista disse que 8/1 foi resultado de 'apagão geral'

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Brasília

De volta ao Palácio do Buriti após decisão do ministro Alexandre de Moraes, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), conseguiu destravar resistências políticas que surgiram após os ataques de 8 de janeiro.

Mais de dois meses depois do episódio, a oposição desistiu de pedir o impeachment do governador, o MDB parou de ventilar a possibilidade de expulsão e 5 dos 7 integrantes da CPI em funcionamento na Câmara Legislativa são aliados do emedebista.

Questões jurídicas, no entanto, ainda podem comprometer o governador, investigado em inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta conivência com os golpistas que invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes.

Ibaneis Rocha, que estava afastado desde 9 de janeiro, conseguiu autorização para reassumir o cargo nesta quarta (15). O prazo inicial previsto por Moraes era de 90 dias, mas o ministro entendeu que o retorno dele ao Executivo não compromete as investigações.

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O governador do DF, Ibaneis Rocha, em coletiva no Palácio do Buriti, após retornar de afastamento nesta quinta-feira (16) - Gabriela Biló/Folhapress

Em entrevista coletiva nesta quinta (16) para marcar seu retorno ao governo, o emedebista disse que os ataques de 8 de janeiro foram resultado de um "apagão geral". "O apagão não foi de graça. Alguma coisa aconteceu para que tivesse."

"Foi um conjunto [de erros]. Tivemos falhas da Polícia Militar do DF, do batalhão do Exército, tivemos diversas falhas em conjunto", disse no Palácio do Buriti, onde chegou acompanhado do secretário de Segurança Pública escolhido após aval do governo federal, Sandro Avelar.

Durante o afastamento, Ibaneis duvidou que conseguiria antecipar sua volta, segundo interlocutores. Um dos momentos mais tensos foi após a decisão em que Moraes classificou a conduta dele como ainda pior que a do ex-ministro e ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres, que está preso.

"O descaso do ex-ministro Anderson Torres [...] só não foi mais acintoso do que a conduta dolosamente omissiva do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que não só deu declarações públicas defendendo uma falsa ‘livre manifestação política em Brasília’ [...] como também ignorou todos os apelos das autoridades para a realização de um plano de segurança", escreveu à época.

Mesmo sendo o principal nome do MDB no Distrito Federal, Ibaneis também passou a sofrer resistências políticas após a destruição de 8 de janeiro. Longe do poder, o emedebista foi alvo de ataques dentro da sigla e viu movimentações por seu impeachment no Legislativo local.

A representação contra o governador foi anunciada no dia seguinte ao episódio por um dos principais caciques do partido, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Apesar da ameaça, nem sequer o alagoano pediu a expulsão do correligionário.

Renan afirma ter resolvido esperar o resultado das investigações e diz que a saída do governador do DF do partido "é uma consequência inevitável" caso ele seja considerado culpado pela Justiça.

"O fato está sendo investigado. E o mais prudente é aguardar o resultado da investigação. Se não, nós mesmos vamos prejulgar, não é recomendável. Nós estamos aguardando que se conclua a investigação", diz.

Durante o período em que esteve afastado, o governador contou com o apoio do ex-senador Romero Jucá (MDB-RR) e recorreu às principais lideranças do seu partido, incluindo o presidente, Baleia Rossi (SP).

Integrantes da executiva do MDB afirmam que o governador é um democrata e pode ter sido levado ao erro. Um deles diz que, se Ibaneis cometeu algum crime, foi de caráter culposo —quando não há intenção.

Apesar disso, até mesmo aliados do emedebista admitem uma possível responsabilização pela insistência na nomeação de Torres para comandar a Segurança Pública do DF, mesmo desaconselhado por ministros do STF e integrantes do governo federal.

Na entrevista desta quinta, o governador afirmou que Torres era pessoa de sua "inteira confiança", e que acreditava "que as coisas iriam transcorrer na maior tranquilidade". O emedebista também evitou responsabilizar o ex-auxiliar.

"Tinha intimidade com ele, posso dizer isso de forma categórica, e enquanto foi ministro da Justiça sempre me atendeu. Entendi que ele seria uma boa pessoa para o governo do DF", disse.

"O que aconteceu foi imprevisível. Na minha visão, não foi culpa do Anderson", avaliou. Pouco depois, ele afirmou que o plano de segurança montado para a ocasião estava "extremamente bem montado".

Ibaneis ressaltou ainda que "por duas vezes tentamos tirar os manifestantes da porta do quartel-general do Exército e nas duas vezes fomos impedidos pelo Comando do Exército". "Sabíamos que aquilo era um barril de pólvora."

Na Câmara Legislativa do DF, o governador tem apoio da maioria dos 24 deputados e, com o corporativismo da base, conseguiu conter o avanço de discussões sobre eventual impeachment.

"Politicamente, eu te digo: não existem 16 deputados na Câmara Legislativa dispostos a votar pelo afastamento do Ibaneis. Isso eu cravo para você", diz à Folha o deputado distrital Chico Vigilante (PT), presidente da CPI dos Atos Antidemocráticos.

"A situação de Ibaneis não é uma questão política, mas jurídica. Cabe ao Alexandre de Moraes, que deve ter mais informações que nós, comuns e mortais."

O deputado conta que, ainda em dezembro, foi escalado pelo PT para conversar com o governador e tentar evitar que Torres voltasse para a Secretaria de Segurança Pública —sem sucesso.

"Eu disse que era uma temeridade, que não deveria nomear, que havia problema e insatisfação do governo federal, que não era correto. Ele virou e falou ‘tudo bem, vou manter o [ex-secretário] Júlio Danilo até a posse [de Lula] e depois eu trago ele [Torres] de volta."

Vigilante afirma que, além da insistência no nome de Torres, o tratamento dado pelo governador à presidente do STF, ministra Rosa Weber, pode dificultar sua situação jurídica.

"Foi um tremendo desrespeito do Ibaneis quando a Rosa [Weber] passa a mensagem para ele e ele responde só enviando o telefone do [número 2 da Secretaria de Segurança] Fernando Oliveira. É até meio constrangedor."

Recluso desde 8 de janeiro, Ibaneis Rocha voltou às redes sociais nesta quarta e divulgou um vídeo em que promete "trabalhar muito". Nele, o governador também agradece os distritais e sua vice, Celina Leão (PP) —que ficou à frente do governo nesse período.

Pessoas próximas a Celina negam os rumores de que ela tentou impedir a volta do titular. Dizem, no entanto, que ela aproveitou o espaço para se projetar na disputa ao governo daqui a quatro anos.

"A última vez que tinha encontrado Celina foi no dia 9 [de janeiro] quando fui afastado. Ela governou essa cidade com a consciência que estava fazendo o melhor para o DF", disse Ibaneis nesta quinta.

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