Descrição de chapéu Governo Tarcísio

Apoio de Tarcísio a operação da PM realinha discurso com a direita após desgastes

Nos bastidores, porém, bolsonaristas mantêm insatisfação com governador e o responsabilizam por morte de policial

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São Paulo

O apoio de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à Polícia Militar na operação que deixou até aqui ao menos 16 pessoas mortas na Baixada Santista realinhou o discurso do governador com a direita conservadora após episódios de tensão entre ele e sua base bolsonarista.

Agradecimentos e referências ao governador apareceram nas redes e nos discursos de deputados que, antes, engrossavam o coro de críticas ao aliado de Jair Bolsonaro (PL).

Bolsonaristas ouvidos pela reportagem, porém, dizem que a insatisfação com Tarcísio permanece.

Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite durante entrevista à imprensa sobre a operação da PM em Guarujá
Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite durante entrevista à imprensa sobre a operação da PM em Guarujá - Josué Emidio - 31.ju.23/Divulgação Governo do Estado de SP

Na avaliação desses parlamentares, as falas do governador a favor da PM não representam necessariamente um gesto para a direita, mas o único discurso possível diante do eleitorado que o elegeu e da maioria conservadora do estado.

A bancada da bala também responsabiliza o governador pela morte do soldado Patrick Bastos Reis, pois deputados já haviam denunciado antes a escalada da violência na Baixada Santista. A Secretaria da Segurança Pública está sob o comando de Guilherme Derrite (PL), um dos poucos bolsonaristas que Tarcísio abrigou no governo.

O episódio ainda atiçou o descontentamento com Tarcísio em relação às câmeras nos uniformes, questão que desagrada a tropa e pressiona os deputados bolsonaristas que têm a segurança pública como plataforma.

O discurso pró-PM de Tarcísio e o endosso público de bolsonaristas a ele ocorre no momento em que o próprio ex-presidente Bolsonaro atuou para que os parlamentares da direita no estado se aproximassem do governador e evitassem criticá-lo.

Por isso, segundo os deputados ouvidos pela reportagem, a reprovação a Tarcísio ficará reservada aos bastidores.

No plenário da Assembleia Legislativa, nesta terça, dia em que a Casa retornou do recesso, a operação Escudo foi o principal assunto. Houve embates diretos no microfone entre deputados da esquerda e da bancada da bala.

Depois de semanas em que os conservadores discutiram entre si, inclusive publicamente como foi registrado entre Tarcísio e Bolsonaro por causa da Reforma Tributária, a reorganização do debate em torno do eixo esquerda versus direita favorece Tarcísio, que passa da condição de alvo a blindado.

"Parabéns, governador Tarcísio e secretário Derrite, não arredem o pé, porque a chave vai ter que virar nesse estado em algum momento, porque bandido não pode mandar nesse estado", discursou Major Mecca (PL).

À Folha o deputado afirmou que "Tarcísio está correto, com a postura de um estadista sério e compromissado com a população".

Já o deputado Emidio de Souza (PT) relacionou a reação do governador à necessidade de agradar ao ex-presidente. "Se o sr. [Tarcísio] tem satisfação a dar a Bolsonaro é problema seu. Não use os instrumentos de segurança pública para agradar seu eleitorado bolsonarista e seu eleitorado que quer sangue", disse.

"Não sei se pior ou tão ruim quanto a própria chacina, a própria carnificina que fizeram em Guarujá, foi a atitude do governador Tarcísio de Freitas e do seu secretário Capitão Derrite. Uma autoridade chefe da polícia e chefe do estado apoiar a carnificina e dizer que é assim mesmo, que a polícia tem que reagir, isso é ainda mais grave", completou.

Gil Diniz (PL), aliado de Bolsonaro, foi outro a pedir na tribuna que Tarcísio mantenha seu discurso a favor da PM. "Governador, não escute essas pessoas aqui, não se leve por pressões", disse, referindo-se aos deputados de esquerda que falaram em chacina, vingança e morte de civis.

Tarcísio, que vinha fazendo gestos ao centro e mantém um jogo de morde-assopra com o bolsonarismo, decidiu não condenar a ação da polícia, o que poderia ampliar o desgaste com seu eleitorado.

Na segunda (31), em entrevista sobre a operação, ele afirmou estar "extremamente satisfeito com a ação policial". "Temos uma polícia treinada e que segue à risca a regra de engajamento", afirmou. Nas redes sociais, ele publicou que "nenhum ataque aos nossos policiais ficará impune."

Em nova entrevista nesta terça, Tarcísio chamou as 14 mortes de "efeito colateral" do combate ao crime e prometeu punir eventuais excessos.

Quando o tema é polícia, no entanto, mesmo governadores do PSDB, menos identificados com a direita do que Tarcísio, costumavam apoiar ações violentas. Em 2019, João Doria elogiou a política de segurança após uma ação policial em Paraisópolis (zona sul de SP) terminar com nove mortos.

Por isso, deputados afirmam que Tarcísio não poderia reagir à operação de forma crítica —um aceno ao centro nesse contexto seria prejudicial eleitoralmente.

A federação formada por PT, PC do B e PV acionou o Ministério Público para investigar a ação da polícia. "A escalada de violência resultante da operação policial [...] não pode ser naturalizada, como pretende o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas", diz a nota da oposição.

Deputados do PT e do PSOL cobraram respeito aos direitos humanos. Paula da Bancada Feminista (PSOL) afirmou que Tarcísio e Derrite "deram carta branca para que a matança continue".

Na outra ponta, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) manifestou apoio à polícia e mirou a esquerda. "A defesa dos bandidos é desproporcional à defesa aos policiais", publicou em crítica aos ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública).

Apesar dos elogios de bolsonaristas a Tarcísio no contexto da operação, as ações dele na segurança pública ainda estão aquém da atuação linha-dura que esse campo desejava. Em sua campanha, Tarcísio chegou a prometer o fim das câmeras nos uniformes dos policiais, mas recuou.

Um deputado do PL afirma que integrantes da bancada da bala viraram alvo de brincadeiras entre os policiais da Alesp (Assembleia Legislativa de SP), que cobram de maneira sarcástica a promessa do governador.

Como mostrou a coluna Painel, da Folha, os confrontos na Baixada Santista reanimaram a cobrança pelo fim das câmeras. "Está na hora de debatermos em São Paulo, a retirada das câmeras no peito dos nossos policiais! A bandidagem não pode ter essa vantagem!", publicou Gil Diniz.

Além do vaivém na questão das câmeras, outro ponto de desgaste do governador que envolveu especificamente as polícias foi o projeto de lei que ele enviou à Alesp para aumentar o salário desses servidores, mas que também ampliava o desconto dos aposentados.

Deputados aliados de Tarcísio foram pegos de surpresa e passaram a criticar o texto —mais uma vez, o governador voltou atrás.

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