Descrição de chapéu Governo Tarcísio

Tarcísio mantém morde-assopra com bolsonarismo desde eleição; entenda em 6 pontos

Governador paulista acolheu pragmatismo após chegar ao Bandeirantes e irritou aliados de ex-presidente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A crise pública entre Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deflagrada em julho pela articulação da reforma tributária após a declaração de inelegibilidade do ex-presidente, expõe uma relação de críticas e acenos entre os dois políticos.

Apesar de este ser o principal desentendimento, outras situações já geraram atritos entre o chefe do Executivo de São Paulo e a base bolsonarista, como a relação com o presidente Lula (PT), o espaço dado no governo e o pragmatismo diante de políticas públicas vistas como progressistas.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em formatura de oficiais da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, na zona norte da capital paulista
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em formatura de oficiais da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, na zona norte da capital paulista - Zanone Fraissat - 2.jun.23/Folhapress

Em outros momentos, Tarcísio também atuou para afagar os aliados de Bolsonaro, como a presença pública em eventos com o ex-presidente, a homenagem a um expoente da ditadura militar (1964-1985) e o veto à exigência de vacinação contra Covid-19 no estado para entrada em estabelecimentos.

Nesta quinta (16), Bolsonaro disse que "não está tudo certo" na sua relação com o governador e fez críticas a postura política do seu ex-ministro. "Eu não mando no Tarcísio. Ele é um baita de um gestor. Politicamente dá suas escorregadas. Eu jamais faria certas coisas que ele faz com a esquerda", afirmou.

Relembre em seis pontos as rusgas e os acenos entre Tarcísio e o bolsonarismo:

Rusgas

1) Espaço no governo

Ainda na transição, aliados de Bolsonaro reclamaram da falta de secretarias e cargos em primeiro escalão, com maior espaço a partidos de direita ou centro-direita, como o PSD, e da nomeação de nomes com perfil técnico ou até mesmo titulares de pastas em governos anteriores.

Entre os declaradamente bolsonaristas no secretariado do governador estão somente Sonaira Fernandes (Republicanos), da Secretaria de Políticas para as Mulheres, e Guilherme Derrite, na Segurança Pública.

No início do mandato, Tarcísio ainda tentou acomodar alguns correligionários do ex-presidente em cargos de segundo escalão, como em secretarias-executivas e nas assessorias especiais ao governo.

2) Relação com Lula

Outro ponto de irritação entre o governador e bolsonaristas está no relacionamento com Lula. Tarcísio, apesar de ter posicionamento político e ideológico contrário ao do petista, mantém postura amigável com o presidente —ele já afirmou ser sócio do atual mandatário.

Em dezembro passado, Tarcísio afirmou nunca ter sido "bolsonarista raiz". Ele disse não querer entrar em qualquer "guerra ideológica" com outros entes institucionais e pediu pela pacificação do país, que classificou como tenso e dividido.

Com isso, manteve relação positiva e pragmática com o Planalto, vista na ida à reunião com todos os governadores após os ataques golpistas de 8 de janeiro e na presença de Lula nas reuniões e ações para a recuperação do litoral norte, em fevereiro.

3) Políticas públicas

No Palácio dos Bandeirantes, a postura de Tarcísio foi a de investir em políticas públicas vistas como progressistas, o que gerou ampla repercussão entre a direita e a esquerda —ele era visto como um dos herdeiros do bolsonarismo ideologicamente.

A principal medida demonizada pelos apoiadores de Bolsonaro e sancionada pelo governador foi a distribuição de Cannabis medicinal pela rede pública de saúde paulista.

Ele contou ter um sobrinho com síndrome de Dravet (que provoca crises severas de convulsão) que ganhou qualidade de vida quando passou a ser tratado com canabidiol e comemorou a implementação da medida no estado.

Outros temas contrários ao bolsonarismo e abraçados por Tarcísio envolvem a pauta verde e a preservação de terras indígenas, a manutenção da câmera corporal em policiais (tema por ele atacado na campanha) e até o financiamento de um centro LGBTQIA+ na capital paulista.

Acenos

4) Falas e idas a eventos

Apesar de manter uma relação com Lula, o chefe do Executivo paulista continua próximo de Bolsonaro, recebendo-o como hóspede no Bandeirantes e participando de eventos com o ex-presidente. Um deles foi a formatura de oficiais em academia da PM, em junho, quando os dois estiveram presentes.

No dia anterior ao evento, ambos compareceram a uma partida entre São Paulo e Sport, no Morumbi. Parte da torcida são-paulina protestou contra a presença do ex-presidente com faixas, vaias e até copos arremessados.

No dia em que Bolsonaro foi declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na semana passada, Tarcísio não deixou de registrar sua lealdade e homenageou o ex-mandatário nas redes dizendo que sua liderança é "inquestionável e perdura".

5) Sem passaporte da vacina

Em fevereiro, Tarcísio sancionou projeto de lei, de autoria de deputados bolsonaristas, que proíbe a exigência de apresentação do comprovante de vacinação contra Covid-19 para acessar locais públicos e privados no estado.

A militância contra o comprovante da vacina faz parte da agenda de Bolsonaro na pandemia. O ex-presidente discursou contra os imunizantes e se opôs ao isolamento social.

Enquanto ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio endossou a postura negacionista do então presidente. O agora governador estava ao lado de Bolsonaro na live em que o ex-presidente ri ao comentar um suposto aumento de suicídios na pandemia.

6) Homenagem a expoente da ditadura

No fim de junho, o Governo de São Paulo promulgou lei em homenagem ao coronel Erasmo Dias, expoente da ditadura —da qual Bolsonaro é saudosista—, renomeando um entroncamento de rodovias em Paraguaçu Paulista, cidade natal do militar. O decreto foi visto como um aceno ao ex-presidente.

O coronel, morto em 2010 aos 85 anos, foi deputado federal, estadual e secretário da Segurança Pública paulista. Dias ficou conhecido por comandar a invasão na PUC de São Paulo em setembro de 1977, na última grande operação do regime autoritário contra o movimento estudantil, que tentava reorganizar a UNE (União Nacional dos Estudantes).

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.