Lira cobra Lula 'mais radical' para afastar ministro que descumpre acordo político

Presidente da Câmara faz críticas veladas ao ministro da Agricultura em entrevista ao Roda Viva

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Brasília

O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), afirmou que a articulação política do governo Lula (PT) no Congresso Nacional melhorou desde o começo do ano, mas disse que o cargo de ministro da Secretaria de Relações Institucionais —ocupado atualmente por Alexandre Padilha (PT)— "tem muito prazo de validade".

O presidente da Câmara fala no estúdio do programa
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, durante entrevista ao Roda Viva nesta segunda-feira (31) - Reprodução - 31.jul.23/TV Cultura no YouTube

Lira disse que Padilha sofreu dificuldades por causa do que classificou como "loteamento de ministérios" na formação da Esplanada de Lula, indicando que nem sempre ele pode cumprir com o que havia prometido a parlamentares.

O partido do presidente da Câmara atualmente está negociando a entrada no primeiro escalão do governo.

"A relação [entre Executivo e Legislativo] tem melhorado bastante. E todos nós sabemos que o cargo que o ministro Padilha ocupa tem muito prazo de validade. Muita gente entra ali e sai rapidamente e outros saem reconhecidos. O que tem que existir é: senta, conversa, resolve e cumpre", disse Lira durante o programa Roda Viva, na TV Cultura, na noite desta segunda-feira (31).

O presidente da Câmara foi além e sugeriu que Lula fosse "mais radical" e chegasse a afastar ministros que não cumprissem com decisões tomadas pelo núcleo político do governo.

As declarações ocorreram num contexto em que Lira citou que Padilha foi designado pelo presidente para ser a pessoa responsável pela relação entre o Executivo e o Legislativo.

"Cada partido é dono de seu quinhão, cada ministro ou responde a um partido ou a alguma liderança nacional que o indicou. Muitas vezes o ministro Padilha acertava determinadas situações com determinados partidos ou parlamentar e o [outro] ministro simplesmente não cumpria."

Pouco antes, o presidente da Câmara fez críticas veladas ao ministro Carlos Fávaro (Agricultura), ainda que sem citá-lo nominalmente, ao tratar da distribuição de recursos aos estados.

Como a Folha mostrou, o governo Lula destravou recursos que recebeu com o fim das emendas de relator, mas a primeira distribuição privilegiou estados de ministros do governo —principalmente Mato Grosso, de Fávaro, e Pará, de Jader Filho (Cidades).

De cerca de R$ 140 milhões empenhados (etapa que antecede o pagamento) pela Agricultura, foram destinados R$ 130 milhões para sete municípios de Mato Grosso.

"Não acho justo que você ache justo que é melhor que um ministro que não teve um voto, não fez concurso público para ser ministro, mande R$ 150 milhões para sete municípios da cidade [estado] dele usando o mesmo orçamento que vocês chamavam de secreto ontem", disse Lira, ao responder a uma pergunta no programa.

O presidente da Câmara foi questionado sobre a qual ministro estava se referindo, mas evitou citar nomes. "Tenho certeza que a capilaridade de 600 parlamentares que vão e voltam para os seus estados todos os dias têm muito mais efeito sobre o orçamento, que é uma peça do Legislativo, do que essas coisas."

Na entrevista ao Roda Viva, o deputado também foi questionado sobre iniciativa de tentar censurar na Justiça veículos que publicaram reportagens com depoimentos de sua ex-mulher Jullyene Lins, que o acusa de violência sexual.

Em um desses casos, o site Congresso em Foco teve que tirar reportagem do site, por causa de decisão há três semanas.

Lira disse ser "100% contra a censura" e que foi à Justiça porque já foi inocentado das acusações da ex-esposa e não pode "pagar toda vez pelo mesmo assunto".

"Um caso como esse, que aconteceu há quase 20 anos, que já foi tratado em cinco eleições em Alagoas —sempre em eleições—, de uma maneira que machuca muito a minha família, a mim próprio. Ele renasce em todas as oportunidades, trazendo sempre as mesmas coisas. Tem uma hora que você tem que recorrer."

Ao ser questionado sobre a entrada do PP no governo, Lira afirmou que em suas conversas com Lula nunca chegou a aventar nomes ou espaços a serem ocupados.

Com a volta do Congresso nesta semana, há expectativa da retomada das discussões sobre a reforma ministerial e a eventual entrada de PP e Republicanos no primeiro escalão do petista. "Sempre que o meu partido foi governo, ele entregou sempre mais votos do que partidos de governo", disse o deputado.

Ainda na entrevista desta segunda, Lira se defendeu de vinculações com as irregularidades na compra de kits de robótica em Alagoas e disse não poder responder pelas ações de aliados.

Luciano Cavalcante, um dos mais próximos auxiliares de Lira, foi alvo de mandado de busca e apreensão cumprido pela Polícia Federal em junho. Ele é conhecido em Brasília como uma das pessoas de maior confiança de Lira, que o acompanha em agendas diversas e viagens.

"Luciano é meu amigo. Nunca neguei minha amizade com ele. O que eu não posso é ser responsável por isso ou aquilo de outro CPF", afirmou Lira.

A investigação sobre os desvios em contratos do kit robótica tem origem em reportagem da Folha publicada em abril de 2022. No fim de junho, a PF enviou a investigação ao STF (Supremo Tribunal Federal) após encontrar documentos com citações a Lira e uma lista de pagamentos atrelados ao nome "Arthur".

Nesta segunda, o presidente da Câmara criticou a divulgação de informações das investigações na imprensa e disse que foi alvo de "ilações".

"Aquele papel que eu não conheço, que não sei quem escreveu, que não sei o que se relata, que não sei do que se trata. Para mim é crime, condenei isso o tempo todo na Lava Jato."

No começo do mês, o ministro Gilmar Mendes suspendeu a investigação. Na liminar (decisão urgente e provisória), também paralisou todos os procedimentos relacionados ao inquérito, como medidas de quebra de sigilos, até que o Supremo julgue se o caso deveria ser de competência do tribunal.

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